Estilo de vida
04/07/2019 às 09:00•2 min de leitura
Imagine que você está em uma expedição na região norte do deserto do Saara, no Marrocos, sentado num camelo e fritando sob o sol. De repente, começa a ventar, e surge um zumbido contínuo e misterioso. Hoje em dia, seria muito fácil pegar seu smartphone e pesquisar sobre ele, mas quando Marco Polo viajou pela região, no século 13, descreveu o som como o de espíritos assombrados viajantes. Ouça e tire suas próprias conclusões:
O som pode parecer assustador a princípio, principalmente se você o ouvir no meio do nada, mas um cientista francês parece ter encontrado a explicação para o fenômeno.
A produção do sinistro zumbido não é exclusividade do Saara, pois existem registros de sons semelhantes em outras regiões do mundo. Para que as dunas cantem, é necessário um dia com vento, fazendo com que a areia se acumule cada vez mais no topo das dunas, o que causa até pequenas avalanches de areia.
Deserto do Saara
Além disso, o dia precisa estar quente e seco, o que não é nada anormal em um deserto, mas por que só algumas dunas no mundo produzem o zumbido? E mesmo entre elas, qual é o motivo da diferença do som gerado?
O segredo, segundo a equipe de biofísicos que pesquisou o fenômeno, está na própria areia. Eles viajaram até Marrocos e Omã, dois países que possuem dunas emitindo sons frequentemente, e os registraram com equipamentos profissionais. Durante essa etapa, eles perceberam que o simples fato de caminhar sobre a areia gerava um som característico e que ele variava conforme a velocidade da pisada. Após todas as medições, eles também coletaram amostras da areia e voltaram ao laboratório.
Deserto próximo a Mascate, capital de Omã
As análises mostraram que a areia das dunas localizadas no Marrocos possuem grãos de tamanhos uniformes, com 160 microns, equivalente a 3 vezes a espessura de um fio de cabelo humano. Já as dunas de Omã não são tão uniformes; os grãos de lá variam entre 150 e 300 microns. Coincidentemente, o som emitido pelo deserto do Marrocos é mais uniforme, enquanto em Omã o som parece variar mais.
A equipe ainda não afirma com certeza sobre a causa do som, mas as dimensões dos grãos de areia têm influência direta na questão. Foi possível reproduzir o som em laboratório, mostrando que o zumbido não depende do tamanho das dunas. O autor principal do estudo, Stéphane Douady, tem como principal suspeita algo muito mais simples.
O som seria gerado pela movimentação dos grãos de areia pelo vento, sendo o fenômeno causado pelo choque de milhões de pequenos grãos de areia. Dessa forma, em um local amplo como as dunas de um deserto, uma infinidade de pequenas colisões geraria um som característico do local. Um bom grito de guerra, não acha?