Kelburn Castle: arte na costa escocesa, uma pintura em forma de castelo

30/09/2018 às 08:002 min de leitura

Neste ano foi comemorado o 10° aniversário de um projeto pra lá de ousado e lindo, quando a mistura do contemporâneo com o antigo deu samba. Um choque de urbanidade em meio a uma propriedade da era medieval. Estamos falando do Grafitti Project no Kelburn Castle, na Escócia: uma obra de arte ao ar livre, construída a oito mãos por brasileiríssimos grafiteiros de renome internacional.

Um passado histórico

O castelo de Kelburn data do século XIII, tendo sido construído por volta do ano de 1200. Uma edificação à beira-mar em North Ayrshire, 60 quilômetros a oeste de Glasgow. A história do castelo se mistura à da família Boyle, que migrou da Normandia em 1066 e se instalou em Kelburn em 1140.

É considerado um dos monumentos históricos mais antigos da Escócia. Crê-se até que seja o castelo mais antigo da Escócia a ter estado permanentemente habitado ao longo de todos esses séculos. Ainda hoje, é o lar da família Boyle e do Earl de Glasgow, um título de denominação inglesa que tem equivalência ao de Conde. Esse título foi conferido à família Boyle no século XVIII, para o então proprietário do castelo, David Boyle, um articulador do Acts of Union de 1707, que permitiu a união da Inglaterra e da Escócia.

Uma fachada para a arte

Voltando ao projeto Grafitti, quem o idealizou foram os filhos do 10° e atual Earl of Glasgow, Patrick Boyle, em 2007. Na ocasião, foi constatado que, cedo ou tarde, a fachada de concreto do castelo precisaria de passar por reparos para não comprometer as pedras da construção. Foi então que os filhos de Boyle sugeriram uma intervenção artística para a questão e chamaram os artistas brasileiros Nina, Nunca, Gustavo e Otávio Pandolfo (os Gêmeos), para grafitarem a fachada do castelo.

Dada a ousadia do projeto, imaginou-se que haveria muitos entraves e relutância, inclusive por parte do Conde e até mesmo para aprovação pela Historic Scotland, entidade governamental que cuida do patrimônio histórico do país. Para a surpresa geral, a entidade concedeu permissão para realização do projeto e deu um prazo inicial de 3 anos para que a permanência da obra fosse reavaliada.  

Os artistas entraram de cabeça, cientes de que sua arte seria temporária, e o projeto ainda atraiu a atenção de todo tipo de mídia e também de patrocinadores. Tubos de spray foram cedidos pela marca espanhola Montana, especializada em tintas para grafitti, e o trabalho de execução durou 1 mês, período em que toda a equipe ficou hospedada no castelo. O resultado da obra deu novos ares ao lugar, que passou a atrair turistas de todo o mundo. O fascínio pelos desenhos coloridos e vibrantes em contraste com o verde da natureza e o cinza do restante do castelo empolga os admiradores.  

Por conta de todo o sucesso da obra, em 2011, ao final da licença inicial de 3 anos, o Conde de Glasgow fez um apelo à entidade responsável para tornar a obra permanente. Não se sabe, no entanto, sobre o veredito. Aparentemente, continua sub judice, pois há o temor de que o cimento da fachada ainda possa estar comprometendo a estrutura do castelo.

No mesmo ano de 2011, o trabalho foi incluído na lista dos 10 melhores exemplos de arte urbana do mundo, ao lado de trabalhos como o de Bansky, em Los Angeles. Sem dúvidas, trata-se de uma obra de arte que harmoniza incrivelmente com a natureza que circunda a região e faz pulsar a vida de um passado cheio de história com uma boa dose de irreverência.

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