Artes/cultura
20/01/2021 às 06:00•3 min de leitura
Muita coisa mudou nos países que faziam parte da União Soviética, após a dissolução do antigo regime, entre 1990 e 1991. A “cortina de ferro”, que separava esses lugares do ocidente capitalista, caiu, permitindo que eles fizessem parte do mundo globalizado. Por outro lado, como não existe botão de “reiniciar” na história, alguns aspectos do passado soviético ainda podem ser observados nesses países até hoje.
Um dos maiores exemplos disso é a arquitetura: a maioria das cidades ainda é repleta de construções no padrão soviético, com grandes blocos de concreto construídos com foco na funcionalidade (e não na estética).
Outro ponto importante é que algumas da ex-repúblicas soviéticas saíram de uma ditadura apenas para entrar em outras: Belarus, por exemplo, é governada há 25 anos pelo mesmo presidente, Aleksandr Lukashenko. Desse modo, há muitas cidades mal cuidadas nos países desse grupo — locais que parecem estar abandonados, sem a infraestrutura e equipamentos dignas de uma zona urbana na Europa do século XXI.
Isso inquietou o artista digital ucraniano Andrey Goopsa. Ele, então, resolveu usar seu talento para fazer montagens e seus conhecimentos em arquitetura e urbanismo para repensar como poderiam ser esses lugares, se fossem bem cuidados. A ideia, segundo Goopsa, é mostrar a seus compatriotas que eles devem exigir mais dos governantes.
Goopsa conquistou mais de 140 mil inscritos em seu canal do YouTube, onde mostra o processo de criação das imagens. O conteúdo está em russo, então vai ser um pouco difícil para a gente entender. Mas as fotos que o artista publica em seu Instagram falam por si só: as cidades, antes cinzas e tristes, ganham uma nova vida com os retoques de Goopsa. Não é à toa que ele batizou o projeto como “flourishing” — florescer.
Os conteúdos mais populares de Goopsa são suas montagens sobre Pripyat, a cidade que precisou ser abandonada por conta do desastre nuclear de Chernobyl. Nos seus trabalhos, o artista tenta imaginar como seria a cidade, caso o desastre — causado, em grande parte, por conta da ineficiência do governo soviético, na época — nunca tivesse acontecido. As ideias de Goopsa são bem diferentes da cidade fantasma da realidade…
Desastres nucleares à parte, há lugares com cara de cidade fantasma por toda a antiga União Soviética. Por isso, os trabalhos de Goopsa também mostram esses outros locais, que poderiam receber mais cuidados.
As fotos abaixo, por exemplo, são da cidade de Mykolaiv, que fica no sul da Ucrânia, a cerca de 500 quilômetros da capital, Kiev. Nelas, fica evidente que o foco de Goopsa é a mobilidade urbana — com transportes mais modernos e ruas mais conservadas.
Outros trabalhos se dedicam a mostrar cidades remotas da Rússia. Isso porque, sendo este o maior país do mundo, boa parte dos recursos públicos é direcionada às cidades próximas aos grandes centros urbanos, como Moscou e São Petersburgo. Desse modo, muitas cidades na Sibéria, no Ártico ou no extremo oriente russo, acabam recebendo menos cuidados, como podemos ver nas imagens abaixo.
Pensando nesse aspecto, Goopsa talvez tivesse bastante material para trabalhar, se olhasse para outro país gigante, como o Brasil. O que você acha da ideia?