Ciência
05/02/2021 às 15:00•3 min de leitura
Em abril de 2003, as tropas militares dos Estados Unidos invadiram a cidade de Bagdá para conquistar a capital iraquiana, em um episódio que ficou historicamente conhecido como a Batalha de Bagdá.
Paralelamente, enquanto uma guerra se estabelecia, palácios, escritórios do governo, hotéis de luxo, museus e hospitais foram saqueados por civis ao longo de toda a capital. O Museu Nacional do Iraque e o Centro de Artes de Saddam, na Universidade de Bagdá, com uma coleção de 170 mil artefatos de valor inestimável para a história, foram um dos lugares mais depenados.
A Biblioteca Nacional e o Arquivos Nacionais do Iraque sofreram atentados incendiários, destruindo mais de 7 mil anos de história em objetos e manuscritos. A invasão também causou a morte de quase 700 animais do Zoológico de Bagdá, isso porque os bichos ficaram sem alimentação ou foram roubados e sacrificados pelas pessoas para consumo próprio. Enquanto isso, algo ainda maior acontecia.
O Banco Central do Iraque foi criado em 1956 como uma forma de substituir o Iraq Currency Board, o qual foi criado para administrar o sistema monetário do país que foi controlado pelo Mandato Britânico da Mesopotâmia até 1931. No entanto, a má administração do dinar (unidade monetária de países mediterrâneos) por Saddam Hussein gerou uma moeda instável e nada confiável no mercado internacional, além de usá-la como um poderoso instrumento de repressão econômica e social em meio a uma gestão que já era prematura e decadente.
Para reforçar esse controle soberano sobre as próprias finanças, o governo fez do Banco Central uma verdadeira fortaleza. Com cerca de 40 metros de altura, a estrutura desenvolvida pelo escritório dinamarquês Dissing+Weitling é em formato de cubo, revestida em mármore e não tem quase nenhuma janela. Tudo foi projetado para ser o banco mais impenetrável do mundo, tanto que os ladrões só conseguiriam ter acesso a ele pela porta da frente.
E, por incrível que pareça, foi assim que o maior roubo da história aconteceu.
Às 4h de 18 de março de 2003, um dia antes de Bagdá ser bombardeada pelos mísseis norte-americanos, três grandes caminhões estacionaram na frente do banco e permaneceram lá enquanto homens uniformizados saíam com caixas de metal vazias e voltavam com elas carregadas com até US$ 100 milhões.
Não houve explosivos, eles não estavam armados e não teve confusão nem perseguição. Depois que abasteceram os caminhões com a impressionante quantia de US$ 1 bilhão, Qusay Hussein, o chefe das Forças de Segurança Iraquianas e filho de Saddam Hussein, entregou um bilhete ao presidente do banco dizendo que a ação foi necessária para “evitar que o dinheiro caísse em mãos estrangeiras”.
Nenhuma autoridade se posicionou contra Saddam, que tratava o dinheiro de uma nação toda como se fosse seu. Ninguém teve coragem de dizer que ele não podia fazer aquilo. O ditador não esperava salvar seu país, mas só a si mesmo enquanto tudo desmoronava. No final das contas, ele só reforçou a atitude que todos esperavam.
O governo dos Estados Unidos não demorou para descobrir sobre o roubo orquestrado por Hussein, por isso se mobilizou para rastrear o dinheiro, temendo que ele fosse direcionado a fundos de insurreição. Cerca de US$ 650 milhões foram descobertos atrás de uma parede falsa no palácio que pertencia a Uday Hussein (também filho de Saddam Hussein), porém não conseguiram determinar se pertencia à quantia roubada do Banco Central.
Em outro palácio de Saddam, soldados americanos encontram algumas caixas de alumínio, cada uma continha a quantia de US$ 4 milhões em notas de US$ 100. Muitos chefes oportunistas das tropas transportaram secretamente o dinheiro para o Kuwait, e, por isso, os Estados Unidos condenaram mais de 35 militares por roubo entre os anos de 2004 e 2008.
John Taylor, subsecretário para assuntos internacionais do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, pressionou as autoridades para que os fundos fossem devolvidos para o Banco Central do Iraque, porém o Pentágono decidiu permitir à Autoridade Provisória de Coalizão que distribuísse a quantia entre os comandantes militares em campo como bem quisesse.
Ao longo dos anos, o Federal Bureau Of Investigation (FBI) encontrou 91 depósitos clandestinos espalhados pelos Estados Unidos com um total de US$ 440 mil. Todos eram coordenados pelo major Mar Richard Fuller, um fuzileiro naval que tinha sido designado para contar o dinheiro em Fallujah e o responsável por começar a desviá-lo. O então capitão das Forças Armadas, Michael Nguyen, desapareceu com US$ 700 mil, mas foi pego pelo FBI quando voltou de serviço e comprou à vista uma BMW.
Certamente, Hussein imaginava que os norte-americanos fariam tudo com o seu dinheiro, menos gastá-lo comprando carros da BMW. Até hoje, a fortuna roubada por ele continua em circulação, de uma mão corrupta a outra.