Estilo de vida
06/04/2021 às 10:00•2 min de leitura
"Ah, olhe todas as pessoas solitárias. / Eleanor Rigby coleta o arroz na igreja onde aconteceu um casament. / Vive em um sonho. / Espera na janela, usando o rosto que ela mantém em um pote ao lado da porte. / Para quem ele seria?". Você reconhece a letra dessa música?
Lançada em 1966 como parte do álbum Revolver, "Eleanor Rigby" é talvez a mais misteriosa entre as diversas músicas da banda The Beatles que receberam títulos com nomes de pessoas — o quarteto de Liverpool gravou canções como "Penny Lane", "Lucy in the Sky with Diamonds" e "Dear Prudence", a boa parte com personagens totalmente fictícios.
Mas será que ela mesmo existiu e vivia em uma igreja? A história por trás da música e da pessoa traz uma estranha coincidência que pode remeter a um episódio do início da carreira da banda.
A canção foi composta inicialmente por Paul McCartney, mas acabou creditada também a John Lennon por contribuições posteriores. Ao todo, ela ficou quatro semanas no topo das paradas britânicas. Nos EUA, ela ficou em 11º, sendo nomeada a três prêmios Grammy.
A capa do disco Revolver.
A letra fala basicamente sobre solidão: a personagem do título "vive de um sonho", esperando na janela por algo que nunca acontece.
Há ainda a figura do padre McKenzie, que escreve sermões "que ninguém vai ouvir" e tece meias durante a noite, também solitário. Quando Rigby morre na igreja, ele é o responsável por sepultá-la, em uma cerimônia sem qualquer parente.
Além de ser um tratado sobre pessoas sozinhas, análises da letra indicam que ela também fala de maneira pessimista sobre a situação da sociedade britânica pós Segunda Guerra Mundial.
A solitária Eleanor Rigby foi homenageada ainda como uma estátua na calçada da Stanley Street, em Liverpool.
Mas e a Eleanor? Em entrevistas, Paul McCartney citou mais de uma vez que a personagem é fictícia, sendo que o nome simplesmente soou bem na composição, vindo tanto da uma atriz Eleanor Bron quanto de uma bebida alcoólica — nos versos iniciais, ela até seria chamada de Miss Daisy Hawkins.
De acordo com a BBC, entretanto, há um cemitério em Liverpool com um túmulo pertencente a uma Eleanor Rigby. Ele fica no terreno da St Peter’s Church, na região de Woolton, uma igreja que possivelmente foi frequentada pelos jovens Lennon e McCartney no final da década de 1950.
Nesse período, eles haviam recém se conhecido e tocavam juntos sob outro nome, The Quarrymen.
A "verdadeira" Eleanor Rigby morreu durante o sono em 10 de outubro de 1939, aos 44 anos, e era a "devota esposa" de Thomas Woods. A britânica era uma empregada de baixo escalão de mansões.
O local em que Eleanor Rigby foi enterrada.
Ou seja, existiu uma mulher com esse nome na região em que os Beatles cresceram, mas ela não é a mesma retratada na canção.
Anos depois dos primeiros relatos, Paul admitiu que o nome pode ter sido puxado de seu inconsciente: a dupla de fato pode ter caminhado entre os túmulos, e o nome marcou o artista como uma memória quase esquecida, mas que felizmente soou bem com a melodia — sem qualquer relação com a pessoa de verdade, cuja existência ou história ele de fato desconhece.
A igreja de St. Peter, em Woolton.
A lápide de Eleanor Rigby, a verdadeira, virou praticamente uma atração turística aos fãs que visitam Liverpool em busca de lugares memoráveis a respeito da banda.