Ciência
12/04/2021 às 09:00•2 min de leitura
Logo nos primeiros dias do incidente no Canal de Suez, com um navio que encalhou e travou a passagem de embarcações do mundo inteiro durante o final de março de 2021, uma imagem em especial correu a internet.
Ela mostrava o imponente navio Ever Given completamente travado, com a ponta dianteira fixa debaixo da terra, enquanto uma retroescavadeira que parecia minúscula em comparação tentava fazer o trabalho sozinha.
Abdullah Abdel-Gawad/Facebook
Agora, semanas depois da liberação do canal, um personagem quase esquecido desse momento foi finalmente ouvido: o trabalhador que operou o equipamento e, pouco a pouco, ajudou a liberar uma das principais rotas marítimas comerciais do mundo.
O responsável pela obra é o egípcio Abdullah Abdul-Gawad, de 28 anos. Ele foi entrevistado pelo site Business Insider e, pelas declarações, sente um misto de remorso e orgulho pelo trabalho realizado.
Abdullah foi chamado às pressas pela administradora do Canal de Suez por ser o condutor de escavadeiras que estava mais próximo do local do acidente. Outras duas máquinas iguais foram acionadas mais tarde, mas elas ficaram apenas recolhendo a terra retirada pelo primeiro veículo.
Abdullah trabalha para uma terceirizada da administradora do canal.
Um dos motivos para a atuação solitária do homem era o medo gerado pela situação: o navio encalhado poderia ser liberado a qualquer momento e a ponta dianteira corria o risco de acertar quem estava na margem, no que poderia ser um acidente fatal.
Na entrevista, Abdullah conta que a equipe comandada por ele trabalhou por 21 horas diárias, com apenas alguns períodos de sono em tendas montadas nas proximidades até voltar ao serviço.
Ele contou que viu os memes relacionados ao trabalho "inútil" da escavadeira, mas isso só o deixou mais determinado a cumprir a tarefa.
"Minha lista de tarefas / Meu progresso": um dos memes criados com base na situação.
Em 29 de março, a liberação finalmente aconteceu com uma soma de fatores: além da ajuda inicial da escavadeira, uma draga foi utilizada para puxar o Ever Given.
Graças também a uma maré mais alta do que o previsto, o navio voltou a flutuar e seguiu a rota inicial do Canal de Suez.
"Por mais cansaço e exausto que nós estávamos, no minuto em que vimos o navio partindo, foi como se todo o cansaço evaporasse, por causa do sense de conquista", revelou Abdullah. Ele ainda falou que a ação é um orgulho para si mesmo e todo o povo egípcio, algo que acontece "só uma, talvez duas vezes na vida".
Porém, até agora o operador de fato ficou apenas com o orgulho como recompensa do processo. Segundo ele, o pagamento das horas extras ainda não foi realizado pela administradora do canal.
Apesar da falta de reconhecimento, o operador sente orgulho da missão bem sucedida.
Além disso, pessoalmente, o funcionário terceirizado quase não recebeu os parabéns de autoridades e instituições.
Fora uma pequena cerimônia realizada por um jornal local, ele até recebeu um convite para a festa oficial de comemoração — mas ela foi feita em cima da hora, quando ele estava há horas de distância do local do evento.