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24/04/2021 às 07:00•2 min de leitura
“Mineiros fantasmas” poderia ser uma metáfora para "espíritos errantes" de homens que ficaram presos em minas profundas e que surgem para aterrorizar os trabalhadores vivos, mas, infelizmente, a realidade do contexto é bem mais perturbadora. A palavra "fantasma" refere-se aos trabalhadores ilegais que escavam vários metros de profundidade em territórios inóspitos na África do Sul, em busca de pedras preciosas, e que não são vistos porque as autoridades não se preocupam com eles ou porque nunca são resgatados das profundezas dos buracos depois que morrem.
Na década de 1970, a África foi considerada a maior produtora de ouro do mundo, com aproximadamente 75% de todas as reservas globais do minério. Essa riqueza toda serviu para atrair imigrantes de várias parte do globo, financiar a construção de estradas e ferrovias, e tornar a economia do país a maior do continente.
(Fonte: Economics243/Reprodução)
Quando a voracidade da China estagnou, o crescimento econômico da África fez o mesmo. Portanto, as minas onde milhares enriqueceram fecharam depois que as reservas se esgotaram mais rápido do que eles imaginavam. Foi nesse momento que a população e os imigrantes em situação de miséria se viram forçados a invadir essas minas desativadas à procura do minério para poderem sobreviver.
(Fonte: TimesLive/Reprodução)
Fundada em 1896, a mina de ouro Durban Deep, em Roodepoort, nas cercanias de Joanesburgo, foi uma das mais lucrativas do mundo, chegando a produzir mais de US$ 20 bilhões em ouro, e a principal responsável por criar um êxodo para a “corrida do ouro” sul-africana. No auge de sua produção, a mina empregou aproximadamente 18 mil pessoas, entre empregos diretos e indiretos.
Quando o abalo econômico destruiu o mercado, suas reservas foram também as primeiras a se tornarem escassas. O ouro que sobrou se tornou tão inacessível que era proibitivamente caro e perigoso de ser extraído. Em meados de 2001, após 100 anos de operação, a mina foi fechada e seus poços foram devidamente selados com concreto.
(Fonte: The Guardian/Reprodução)
Entretanto, isso não impediu que pessoas detonassem explosivos e formassem buracos de maneira amadora para que pudessem dar início a uma espécie de “segunda corrida do ouro” – dessa vez, porém, dos miseráveis.
Os antigos mineiros se arriscaram pela descida perigosa da mina, que já era ameaçadora quando ainda se tratava de um negócio legalizado, correndo todos os riscos possíveis para tentar encontrar um fragmento de ouro esquecido. O local não possui manutenção, eles não usam equipamentos básicos de segurança, não têm acesso a oxigênio e supervisão de empresas de mineração profissionais para entenderem onde podem perfurar ou não.
Apenas em um dia de 2014, 21 mineiros ilegais morreram nas profundezas da Durban Deep. Muito embora não haja números oficiais, de acordo com os “mineiros fantasmas”, pelo menos uma pessoa morre a cada semana nos poços da mina, sem chance alguma de ser resgatada. Então eles são obrigados a conviver com o cheiro de decomposição no ar, como um alerta de que, a qualquer momento, um deles pode ser o próximo.