Ciência
23/04/2021 às 10:00•4 min de leitura
Os horrores da Segunda Guerra Mundial jamais serão esquecidos. Mas a verdade é que em meio a todo caos e genocídio, existiram pessoas que lutaram da melhor forma que podiam para combater as injustiças promovidas na época, arriscando suas vidas para defender o que consideravam certo.
Como, por exemplo, Nancy Wake, a incrível espiã conhecida como Rata Branca que entrou para a lista dos mais procurados da Gestapo.
Nancy nasceu em 1912 na Nova Zelândia, mas foi criada no bairro de North Sydney, na Austrália. Aos 16 anos, fugiu de casa e começou a trabalhar como enfermeira, e quando recebeu um dinheiro herdado de sua tia, viajou para Londres e começou a estudar jornalismo.
Em 1930, sua carrearia a levou para Paris, e pouco depois se tornou correspondente europeia para o jornal Hearst, emprego que a levou a presenciar a ascensão de Adolf Hitler e do Movimento Nazista ao poder e também o fatídico evento que iria mudar sua vida para sempre.
(Fonte: YouTube/ABC News Australia/Reprodução)
E durante uma viagem a Viena, capital da Áustria, em 1935, a moça observou membros da Schutzstaffel (SS), uma organização paramilitar nazista, amarrar judeus em uma grande roda e torturá-los. E foi aí que pensou "Isso é terrível, eu não poderia chicotear nem um gato. Se alguma vez eu puder fazer algo um dia, eu farei", relembrou Wake em entrevista.
E não demorou muito para que ela pudesse colocar este pensamento em prática.
Em 30 de novembro de 1939, ela se casou com o rico industrialista francês Henri Edmond Fiocca, e o casal foi morar em um luxuoso apartamento com vista para o porto de Marselha. Porém, quando a Alemanha invadiu a França seis meses depois, o casal passou sua rotina de festas chiques com atividades para a Resistência Francesa.
Wake passou a servir como mensageira, levando informações para grupos clandestinos, enquanto seu marido utilizava seus recursos financeiros para auxiliar a causa, como a compra de uma ambulância usada para transportar refugiados judeus, pilotos da Força Aérea Real que foram abatidos e espiões descobertos até um porto seguro na Espanha, que permanecia neutra na época.
(Fonte: YouTube/ABC News Australia/Reprodução)
Devido à habilidade de Nancy de escapar de seus captores, sua figura passou a ser conhecida pela Gestapo como The White Mouse (A Rata Branca). "Um pozinho facial e um pouco de bebida e eu passava pelos postos alemães, piscava e dizia, ‘vocês querem me revistar?’ Deus, que sedutora brilhante eu era", disse a espiã uma vez, descrevendo suas táticas.
Mesmo com tomando muito cuidado para realizar suas missões, sua vida ainda estava sempre em perigo, com a polícia secreta nazista grampeando seu telefone e interceptando suas cartas. Em 1942, as suspeitas sobre a mulher e seu marido se intensificaram, e ela passou quatro dias sendo interrogada pelos alemães.
(Fonte: YouTube/ABC News Australia/Reprodução)
Porém, eles não se deram conta de que estavam com a Rata Branca em suas mãos, e graças a uma mentira do médico belga Albert Guérisse, que afirmou que Wake era sua amante, ela acabou sendo libertada e decidiu fugir para Espanha em maio de 1943, no mesmo ano era a pessoa mais procurada pela Gestapo, com uma recompensa de 5 milhões de francos.
Infelizmente, Fiocca decidiu ficar para trás e não teve a mesma sorte: sendo posteriormente preso, torturado e executado pela Gestapo, fato que sua esposa não descobriu até o final da guerra, se culpando profundamente pelo ocorrido.
Depois de sua fuga, Nancy foi recrutada pela Seção Francesa do Executivo de Operações Especiais (SOE), uma unidade paramilitar britânica especializada em operações de comando. Vera Atkins, uma das oficiais da unidade afirmou que a espiã era “um verdadeiro mulherão australiano. Tudo o que ela fez, ela fez bem”.
Após concluir seu treinamento em abril de 1944, recebendo diversos elogios por ser "rápida no gatilho" e ser conhecida por “envergonhar os homens com sua boa disposição e força de caráter”, Wake voltou para França de uma maneira bem inusitada: saltando de paraquedas na região da Auvérnia.
(Fonte: Memorial de Guerra Australiano/Reprodução)
“Por cima das roupas civis, meias de seda e salto alto, usei um macacão, carreguei um revólver e cobri tudo com um casaco de pelo de camelo, arreios e um capacete de lata”, contou ela em entrevista.
Ela ficou responsável por organizar lançamentos de suprimentos, armas e equipamentos em paraquedas, operando sob o pseudônimo de “Madame Andrée” e o codinome “Bruxa”, seus deveres também incluíam gerenciar as finanças do grupo e servir como uma peça essencial para o recrutamento de novos membros.
Além disso, também liderou ataques às instalações alemãs e à sede local da Gestapo em Montluçon, e em determinado ponto, para encontrar códigos de substituição para seus rádios permanecerem em contato com Londres, pedalou mais de 480 quilômetros durante um período de três dias.
(Fonte: Agência Australiana de Notícias e Informações/Reprodução)
Até a França ser libertada do controle nazista, Wake lutou ao lado de uma tropa de sete mil resistentes, que combateram 22 mil soldados da SS, causando 1.400 mortes, enquanto sofreram apenas 100. Seus companheiros franceses ficaram admirados com seu espírito guerreiro, principalmente quando matou uma sentinela da Schutzstaffel com as próprias mãos, para evitar que acionasse o alarme durante um ataque surpresa.
Em outra de suas façanhas, durante um ataque alemão a outro grupo de resistência, Nancy — auxiliada por dois oficiais americanos - assumiu o controle de um pelotão que havia perdido seu líder. Utilizando seu pensamento rápido, a mulher ordenou que os soldados utilizassem fogo de supressão, uma decisão que permitiu que o grupo fosse retirado do local sem mais baixas.
(Fonte: Stew Ross Discovers/Reprodução)
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, Nancy Wake foi condecorada como heroína da Resistência Francesa, recebendo honras civis dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e França.
Em 7 de agosto de 2011, a Rata Branca faleceu com 98 anos. E seu último pedido foi “Quando eu morrer, quero minhas cinzas espalhadas pelas colinas onde lutei ao lado de todos aqueles homens”.