Artes/cultura
02/05/2021 às 05:00•2 min de leitura
Uma entrevista divulgada neste mês de abril pela BBC apresentou a história real de um drama que dura quatro anos: o marinheiro sírio Mohammed Aisha, que trabalhava em um navio cargueiro do Bahrein encalhado na costa egípcia, foi nomeado por um tribunal como guardião da embarcação, e acabou ficando virtualmente prisioneiro a bordo desde 2017.
Fonte: Mohammed Aisha/Reprodução
O drama do marinheiro teve início em julho de 2017, quando o navio em que trabalhava, o MV Aman, foi detido no porto egípcio de Adabiya por estar com os equipamentos de segurança e certificados de classificação vencidos. Geralmente, esses problemas são resolvidos como se fosse uma multa de trânsito, mas tanto os armadores do Bahrein como seus subcontratados libaneses estavam sem dinheiro.
Por isso, as autoridades egípcias apreenderam o navio e determinaram que toda a população descesse para terra, deixando a bordo apenas um guardião legal. Segundo Aisha, quando ele foi escolhido e assinou o documento, não tinha a menor ideia do que significava ser “guardião legal”, e que, apenas por assinar, estaria se sentenciando a uma verdadeira prisão de quatro anos no navio.
Por quatro anos, Aisha aguardou. Recentemente, foi um espectador privilegiado do bloqueio do vizinho canal de Suez pelo gigantesco porta-contêineres Ever Given. Entre as dezenas de navios parados em uma enorme fila, conseguiu falar com seu irmão, também marinheiro, mas não puderam nem se ver.
Em agosto de 2018, Mohammed passou por um dos seus piores momentos ao receber a notícia de que sua mãe, uma professora responsável pelo seu excelente inglês, havia morrido. Na época, ele pensou seriamente em se matar. Em 2019, ele continuava no navio, agora sem diesel e sem energia. “Você não pode ver nada. Você não pode ouvir nada. É como se você estivesse em um caixão”, disse ele.
Em março de 2020, o que poderia ser um grande problema se transformou em solução: uma forte tempestade arrancou o navio do seu ancoradouro, levou-o à deriva por alguns quilômetros e o fez encalhar a algumas centenas de metros da costa do Egito. Aisha não teve dúvida: pulou na água e nadou até a praia em busca de comida e recarga para seu celular.