Estilo de vida
27/05/2021 às 04:00•3 min de leitura
Há alguns dias, mais especificamente em 17 de maio, comemorou-se o Dia Internacional de Combate à LGBTfobia. A data foi escolhida por ser o exato dia em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças (CID), abrindo espaços para outras conquistas de direitos por esses grupos.
Além disso, existem outras datas para comemorar o Orgulho LGBTQIA+: 25 de março é o Dia Nacional e 28 de julho é o Dia Internacional do Orgulho LGBT — inclusive, nessa segunda data, costuma ser realizada a Parada LGBT de São Paulo, uma das maiores do gênero em todo o mundo. A data relembra o início dos protestos em Stonewall, em 1969, um marco na luta pelos direitos LGBTQIA+.
Em vista disso, algumas pessoas acabam se perguntando: por que não existe um Dia do Orgulho Hétero também? Afinal, se os gays, lésbicas e trans podem comemorar sua sexualidade, por que os héteros não podem?
As datas do Orgulho LGBT são comemoradas ao redor do mundo (Imagem: Unsplash)
As datas criadas para celebrar o Orgulho LGBTQIA não significam, necessariamente, que somente ser gay, lésbica ou trans é algo a ser aplaudido e que ser hétero deveria ser um motivo de vergonha.
O que acontece está mais para o oposto disso: as pessoas LGBTQIA+ são aquelas que sofreram sempre para conseguir se aceitar, ou assumir sua orientação, ou seu gênero perante a sociedade — isso quando não são mortas apenas por serem quem são.
Os héteros podem sofrer por várias outras coisas, é claro, mas não pelo simples fato de serem héteros. Muitos jovens são expulsos de casa, renegados pela família, ou até mortos assim que assumem ser homo/bissexuais ou trans, mas esse tipo de coisa não acontecem quando um homem jovem se assume hétero e cisgênero (isto é, que não é trans). Até porque, dificilmente, um hétero cisgênero vai precisar se assumir, para começo de conversa.
Isso começa na infância, com agressões de colegas da escola e até dos próprios pais e professores, assim que o menino começa a parecer afeminado ou a menina demonstra alguma característica masculina. Apenas para dar um exemplo, em 2014, um pai matou o próprio filho de 8 anos porque ele gostava de lavar louça e isso era "coisa de mulher".
Então, quando se fala em "Orgulho LGBT", o que as pessoas estão dizendo é que não sentem vergonha de serem quem são, APESAR do preconceito.
Casais héteros vivem felizes desde que o mundo é mundo — enquanto os LGBTQIA+ começaram a ter um mínimo de direitos há pouco tempo (Imagem: Unsplash)
Uma data para isso pode parecer desnecessária para algumas pessoas — afinal, em 2021, esse povo pode até casar, então o que mais eles querem? Mas não se esqueça que, ainda hoje, existe muita gente que acha que ser homo/bissexual ou trans é motivo de vergonha ou justificativa para agressão e morte.
Já os héteros cisgêneros estão vivendo suas vidas, assumindo seus relacionamentos e falando de forma aberta sobre suas vidas desde que o mundo é mundo. Como dito, uma pessoa hétero cis pode sofrer com outras coisas, mas não pelo simples fato de se sentir atraída pelo gênero oposto e se identificar com o gênero que nasceu. Se não há luta, então qual seria o motivo para um Dia do Orgulho Hétero?
Ainda há países em que ser LGBTQIA+ ainda é um crime punível com a morte. Mesmo onde isso não é crime, como no Brasil, ainda há diversos segmentos da sociedade em que as pessoas continuam precisando se esconder. Quem não precisa se esconder ainda sofre para se assumir e vive se policiando por medo do preconceito. É por tudo isso que o Dia Internacional de Combate a LGBTfobia continua sendo necessário.