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24/07/2021 às 12:00•2 min de leitura
Durante o auge da epidemia de Gripe Espanhola, em 1918, a elite dos Estados Unidos e os eugenistas se viram em um excelente momento para atribuir as mortes que aconteciam no país aos “becos imundos”, onde moravam os imigrantes, em vez de culpar a falta de um sistema de saúde que auxiliasse a todos e de métodos de prevenção mais restritos e adequados.
Apesar de 103 anos separarem a sociedade dessa época, o mesmo tipo de pensamento estrutural de xenofobia e repúdio se mostrou ainda mais forte em 2020. A pandemia do novo coronavírus levou mais de mil imigrantes chineses e sino-americanos a marcharem pelas ruas de Chinatown, em São Francisco, para protestarem contra a discriminação, o ódio e ataques que a comunidade estava recebendo pelas especulações e fake news de que a China teria deliberadamente liberado um vírus mortal para infectar a população mundial.
"Há dados de que a doença é algo particularmente dos imigrantes chineses, de seus espaços e pela comida considerada 'estranha' e 'exótica' que os asiáticos supostamente comem", ressaltou Erika Lee, diretora do Immigration History Research Center da University of Minnesota.
(Fonte: The World/Reprodução)
Em 1882, quando o Congresso aprovou a Lei de Exclusão dos Chineses para impedir a entrada e inviabilizar a cidadania de chineses nos Estados Unidos, o preconceito se solidificou ainda mais por meio de uma edição de 26 de maio da San Francisco Illustrated Wasp.
A imagem retratava três figuras macabras chamadas "malária", "varíola" e "lepra"; sendo que uma delas segurava uma faixa onde era lido Chinatown, reforçando o pensamento de que os lugares onde os chineses habitavam só geravam doenças.
Assim como os Estados Unidos, o Brasil também teria sofrido do “medo do bode expiatório” — teoria proposta pela historiadora e médica Alexandra Lord — de que a China montaria um grande complô para derrubar países em específico. No caso dos brasileiros, essa ideia se instaurou principalmente por meio de influências políticas.
(Fonte: The Intercept/Reprodução)
Na capa da revista Judge de 1899, o então presidente dos EUA, William McKinley, foi retratado banhando um bebê nativo filipino nas "águas da civilização" logo após o país ter colonizado as Filipinas e o Porto Rico no final da Guerra Hispano-Americana.
Para Natalia Molina, professora de Estudos Americanos e Etnicidade da Universidade do Sul da Califórnia, a imagem era o retrato claro de que não é apenas a política que molda nossas ideias sobre os imigrantes, mas também o conceito de saúde pelos níveis social e cultural.
(Fonte: Fair Observer/Reprodução)
A xenofobia estrutural dos empresários do início do século XIX priorizou por escolher os mexicanos durante as construções de ferrovias por acreditarem que eles eram "biologicamente diferentes dos americanos", com corpos que poderiam suportar melhor o calor para produzir mais trabalho.
No entanto, assim que a Grande Depressão atingiu o país, eles automaticamente se tornaram "bodes expiatórios" econômicos que estariam tirando empregos dos nativos. Foi nessa mesma época que o governo endossou o pensamento de que os mexicanos eram mais suscetíveis a doenças e que sobrecarregariam o sistema de saúde do país.
"Estamos seguindo a grande tradição da América, que é ser obcecado por essas questões de identidade", disse Theodore Gonzalves, curador do museu especializado em história das Artes Cênicas e asiático-americanas.