Artes/cultura
10/04/2022 às 13:00•3 min de leitura
Criatura metade peixe, metade humana que habita no imaginário e na cultura popular, as sereias fazem parte de diversos folclores ao redor do mundo, especialmente na Europa, Ásia e África. Mas se a pergunta é se sereias existem, afirmamos categoricamente que elas não são reais.
Sua concepção moderna é influenciada pelas sirenes, criaturas meio-pássaros, da mitologia grega. Estudiosos acreditam que a influência cristã pode ter resultado na mudança não tão sutil de criatura metade ave para metade peixe. Mas o que transformou as sereias nessas criaturas tão populares, alvo de tantos contos e estudos? Vamos te contar!
(Fonte: Wikimedia Commons)
Ainda que não sejam reais, as sereias existem em outro lugar muito importante: no imaginário coletivo. Como parte integrante do folclore de culturas mundo afora, registros apontam que as primeiras histórias sobre elas estariam intimamente ligadas à mitologia grega, datadas com mais de 3.000 anos.
Assim como outras criaturas dessa mitologia, esses seres teriam parte humana e parte animal. No entanto, a contínua representação desse ser e a forma como seu mito se popularizou em diferentes partes do mundo revelam um quadro mais complexo. A depender de quem fale sobre sereias, elas podem ser belas, sedutoras e até maternais, assim como podem ser monstruosas, cruéis, manipuladoras e sanguinárias.
A era das Grandes Navegações impulsionou a má impressão, com as sereias encarnando os medos que marinheiros tinham do mar. O receio do desconhecido acabava sendo centrado em figuras míticas, cujos relatos no período são abundantes, encontrados até mesmo em escritos de Cristóvão Colombo. Contudo, o consenso na comunidade científica é que todos esses avistamentos eram, provavelmente, de peixes-boi e outros mamíferos aquáticos, como focas.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Apesar dos relatos históricos sobre os seres mitológicos e a presença constante das sereias em histórias folclóricas de tantos países e continentes distintos, os historiadores aceitam que essas fábulas representam a forma que as pessoas encontravam de explicar o que não conseguiam entender.
Para navegadores, por exemplo, aceitar que sereias existiam era uma maneira que os ajudava a compreender seus sonhos, desejos e medos. É preciso ter em mente que as Grandes Navegações ocorrem a partir do século XV e que os trajetos feitos, até então, eram menores, envolvendo apenas o que já lhes era conhecido.
Quando a ideia de desbravar regiões desconhecidas vai surgindo ao longo da história humana, também surgem essas interpretações sobre o que não entendiam, como animais que não habitavam as regiões de onde originavam aqueles navegadores. Por essa razão, encontramos representações que vão desde algo encantador, até idealizações assustadores.
(Fonte: Shutterstock)
A primeira passagem histórica que nos fazer questionar a existência das sereias foi o poema épico de Homero, a Odisseia (IX-VII a.C.), quando Ulisses encontra uma forma de atravessar a "ilha das sereias" e escapar desses malignos seres. De lá para cá, por todo o mundo, ganharam diferentes interpretações, quase como se houvessem diferentes espécies.
Um dos atributos que difere, a depender da cultura, é sua personalidade. Na Irlanda, por exemplo, são chamadas de merrows, e seus primeiros registros datam mais de 1.000 anos atrás. No folclore irlandês, os merrows eram considerados sinais de má sorte.
Na cultura japonesa, a ningyo é uma sereia cujo corpo é predominantemente de um peixe, somente com o rosto humano. Na Europa, havia a lenda das melusinas, uma espécie de sereia que possuía duas caudas de peixe. Na literatura, foram mostradas como seres que almejavam se tornar humanos. Em alguns países europeus, como a Polônia, chegaram a ser símbolos de poder e riqueza.
(Fonte: Walt Disney Studios/Reprodução)
Lançado em 1989, A Pequena Sereia foi o 28º filme de animação da Disney, o primeiro feito no período conhecido como o "renascimento" da empresa. A inspiração para a obra é o conto de fadas de mesmo nome criado por Hans Christian Andersen. O autor dinamarquês publicou a obra narrando a jornada de uma jovem sereia disposta a renunciar a sua vida no mar para se tornar humana.
O conto foi publicado em uma coletânea infantil no ano de 1837, se tornando um dos trabalhos mais famoso do autor. Além disso, A Pequena Sereia rendeu a Andersen o prestígio de um prêmio homônimo destinado a contos infanto-juvenil, em sua homenagem — considerado o "Prêmio Nobel da literatura infanto-juvenil".
Trecho do manuscrito original de A Pequena Sereia. (Fonte: Wikimedia Commons)
Esse interesse acadêmico em interpretar os temas que tangem a obra, bem como as extensas discussões sobre as escolhas do autor, ajudaram a torná-la icônica. Tanto é que, antes mesmo da Disney decidir levá-la aos cinemas, A Pequena Sereia foi adaptada para teatro, balé e ópera. Na capital da Dinamarca, Copenhage, há uma de sereia em homenagem ao clássico.
A animação da Disney ajudou a fortalecer o mito e a perpetuar a obra no imaginário coletivo, convertendo a história em mais de US$ 100 milhões de bilheteria apenas nos Estados Unidos. Além disso, venceu duas estatuetas do Oscar, com "melhor canção" e "melhor trilha sonora original".