Demmin: a cidade alemã que cometeu suicídio em massa em 1945

01/07/2022 às 02:003 min de leitura

Há séculos que a propaganda existe como a espinha dorsal que movimenta a cultura e sociedade, sendo mais crítica em tempos de guerra, ainda que também exista em tempos de paz. Seja em que período for, apenas uma característica une todos os âmbitos que a propaganda transita: a política.

Até a década de 1930, o mundo não havia se deparado com uma implementação de propaganda tão persuasiva como a Adolf Hitler na Alemanha, instantes antes de lançar a Segunda Guerra Mundial. Suas peças propagandísticas criaram um senso tão distorcido da realidade ao manipular ou reinventá-la em benefício de sua ideologia, que soldados e civis pertencentes sofreram basicamente um processo de lobotomia.

Fora o arauto de ódio e racismo em larga escala destilado pelo líder supremo do Terceiro Reich, o nazismo também provocou medo, tanto daqueles que estavam em sua mira e poderiam terminar em valas e câmaras de gás, como também do próprio povo que ouvia seus princípios. Essa sensação, no entanto, era de que aquele conto de fadas lançado sobre os olhos deles como uma espécie de pó mágico, desabasse caso os inimigos vencessem a guerra.

E foi exatamente esse medo que consumiu os cidadãos de Demmin.

Vivendo em prol de uma fantasia

(Fonte: Time/Reprodução)(Fonte: Time/Reprodução)

Joseph Goebbels era líder do Ministério da Propaganda do Terceiro Reich, e foi responsável por convencer as massas que o inimigo, especificamente os soviéticos, eram praticamente criaturas demoníacas, que performariam todo o tipo de atrocidade caso ocupassem o país. A propaganda fez questão de deixar claro que os soldados inimigos iriam mutilar, torturar e estuprar quem estivesse por seu caminho, como forma de punição pelos nazistas quererem criar um "mundo ideal".

Para um “novo país”, como foi considerada a Alemanha, que considerava a família e sua ancestralidade, imaginar esse tipo de realidade causou um pânico imenso na população, aumentado nos estágios finais da Segunda Guerra Mundial.

Afinal, no começo de abril de 1945, já era certo que os nazistas perderiam a guerra, visto que não podiam mais contra as tropas americanas, britânicas e soviéticas, que haviam tomado cidades e libertado prisioneiros.

(Fonte: History Extra/Reprodução)(Fonte: History Extra/Reprodução)

Por todo o país, os alemães ficaram alarmados diante da queda, principalmente na pequena cidade de Demmin, localizada na região da Pomerânia, entre três rios, no nordeste da Alemanha. Durante os anos de 1920 e 1930, o local viu partidos nacionalistas de direita florescerem e prosperarem com o apoio do governo nazista.

Impulsionados pelo ódio judaico proclamado pela ideologia de Hitler, eles boicotaram negócios judeus, entregaram seus donos para o Reich, e até venderam a única sinagoga da cidade para uma empresa de móveis. Quem teve sorte, fugiu da cidade a tempo de ela se tornar um antro de ódio e morte.

Um sacrifício à pátria

(Fonte: The Atlantic/Reprodução)(Fonte: The Atlantic/Reprodução)

O Exército Vermelho ocupou Demmin em 30 de abril de 1945, que sofreu com a própria manobra nazista que explodiu as pontes que davam acesso a ela, para impedir o avanço dos soviéticos, acabando por prender todos no mesmo lugar que aqueles que não acreditavam que existiam inocentes em uma guerra. Afinal, os soviéticos já haviam conquistado sua fama de assassinos impiedosos de civis por onde haviam passado.

Alguns moradores, à marcha dos soldados inimigos pelo território, chegaram a hastear bandeiras brancas, como sinal de rendição, enquanto outros, mais ousados, abriram fogo de maneira débil e ineficaz contra as tropas.

(Fonte: Imgur/Reprodução)(Fonte: Imgur/Reprodução)

Depois que um soldado russo caiu morto, vítima de tiros de um dos moradores, na manhã seguinte, em 1 de maio, foram os cadáveres dos cidadãos de Demmin que se acumularam pelas ruas assim que ouviram por rádio a notícia de que Adolf Hitler havia tirado a própria vida, e de que as tropas soviéticas estavam dominando cada vez mais a cidade.

Mais de 1 mil habitantes tiraram a própria vida, em um ato em massa, se envenenando com cianeto ou outras substâncias, se mutilando, se enforcando, ou pulando em rios. Enquanto isso, os inimigos saquearam casas e queimaram 80% das estruturas da cidade em apenas 3 dias.

(Fonte: Wikipedia/Reprodução)(Fonte: Wikipedia/Reprodução)

Por todo país, milhares de alemães optaram pelo mesmo fim à ocupação. Só em Berlim, 7 mil pessoas já haviam cometido suicídio nos últimos meses, antevendo a queda iminente do futuro nazista.

O que aconteceu em Demmin, porém, foi considerado um desastre, e a melhor representação do impacto psicológico da propaganda em tempos de estresse econômico e guerrilha, que destruiu a mente das famílias que cometeram atos grotescos contra seus entes queridos. Mas para eles, o assassinato foi apenas em prol do "prazer de sacrificar a existência pessoal pela pátria", como exaltou o jornal nazista Völkischer Beobachter.

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