As sinistras mensagens reveladas nas 'pedras da fome'

15/08/2022 às 09:002 min de leitura

As mudanças climáticas e o calor exacerbado têm feito que a Europa enfrenta uma séria onda de seca em seus países. E isto tem trazido à tona de um sinistro fenômeno: com a baixa dos leitos dos rios, ficam visíveis as chamadas "pedras da fome".

A história destas pedras é a seguinte. Entre os séculos XV e XIX, as populações que localizavam no território onde estão hoje a Alemanha e a República Tcheca gravaram mensagens nestas pedras, alertando sobre as catástrofes que surgiram por decorrência da falta d'água.

As mensagens presentes nelas registram um passado marcado pela fome e pela falta da mobilidade que as secas podem trazer. Quando as pedras eventualmente surgem novamente nos rios, elas costumam ser noticiadas pela imprensa europeia e internacional, como presságio de algo que está em vias a acontecer.

As mensagens nas pedras da fome

(Fonte: Science Alert)(Fonte: Science Alert)

Os estudiosos já documentaram textos presentes nessas pedras que remetem aos anos 1417, 1616, 1707, 1746, 1790, 1800, 1811, 1830, 1842, 1868, 1892 e 1893. Há uma delas, encontrada na cidade de Pirna, na Alemanha, que possui o ano 1115 gravado. Porém, a localização da pedra foi perdida.

As mensagens registradas nessas pedras são no mínimo sinistras. Uma das inscrições, encontrada na bacia do rio Elba, é de 1616 e diz em alemão wenn du mich siehst, dann weine, cuja tradução mais aproximada seria: "se você me vir, chore".

Outra pedra diz: "a vida florescerá novamente quando esta pedra desaparecer". Há mais uma que relata: "Se você vir essa pedra de novo, vai chorar. A água estava baixa até aqui no ano de 1417".

A história das secas contada pelas pedras

(Fonte: Phys.org)(Fonte: Phys.org)

As famosas pedras da fome são entendidas como um importante documento histórico sobre o passado. O que se sabe é que as secas anteriores costumavam ser muito mais graves, uma vez que as populações tinham muito menos recursos tecnológicos para lidar com elas.

O aumento das secas, como as pedras deixam claro, significava a exacerbação da pobreza para muita gente. Vale lembrar que, na Europa, boa parte da população vivia da plantação do próprio alimento e dependia da existência de terras férteis para isso.

Além disso, as secas tornavam impossível a navegação nos rios, fazendo com que o problema do transporte de recursos (como alimentos e carvão) ameaçasse a sobrevivência das famílias locais. Por consequência, o que vinha a seguir era a fome - daí o nome dado às pedras.

A atual seca na Europa prenunciada pelas pedras

(Fonte: NPR)(Fonte: NPR)

A Europa enfrenta atualmente mais um período de muita seca e calor. Cientistas do Observatório Europeu da Seca já anunciaram que o continente está provavelmente enfrentando a pior estiagem dos últimos 500 anos.

De acordo com este observatório, 47% da Europa está já em condições de alerta - o que significa que o solo já apresenta déficit na umidade esperada. Outros 17% do território estão em situação menos pior, mas a vegetação já sofre impactos.

Rios como Reno (na Alemanha), Pó (na Itália) e Tâmisa (na Inglaterra) já estão secando. A consequência é vista na população de animais selvagens, na economia e na vida das pessoas que habitam as cidades. Um exemplo é que, por conta do baixo nível de água no rio Reno, o transporte nele já encareceu, impactando os navios de carga - que precisam carregar menos peso para não encalharem.

A crise hídrica generalizada faz com que o impacto da visão das "pedras da fome" se torne ainda maior, funcionando como um prenúncio do que o continente pode vir a enfrentar novamente.

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