Ciência
14/09/2022 às 11:00•2 min de leitura
A morte da rainha Elizabeth II tem gerado manifestações de luto vindas do mundo inteiro - mesmo de gente que não tem qualquer relação com o Reino Unido. Para alguns, é como se tivessem perdido uma tia, ou uma avó.
Mas será que há alguma semelhança entre a dor sentida pela morte de uma pessoa distante, como um ídolo, e o luto que surge da perda de um familiar? Segundo alguns especialistas, há sim algumas similaridades entre estas dores, mas também diferenças cruciais.
(Fonte? Gettyimages)
Estar em luto é uma experiência complexa, e que se manifesta de maneiras diferentes entre as pessoas. Mas, em resumo, o luto se refere ao estado emocional que nos atinge quando nos sentimos no processo de perder alguém e se estende para o período em que enfrentamos a dor da perda.
Enlutar-se significa ter que refletir sobre o fato de que a nossa conexão física com aquele (ou aquilo) com quem temos vínculos já não existe mais. Por isso, o luto é amplo e vai além da sua conexão com a morte. Podemos sentir essa sensação em relação a um diagnóstico de uma doença, à perda de um emprego, ao término de um casamento, ao fato de termos alguma transformação no corpo, como cicatrizes, perda de um membro, etc.
Cada um reage diferente ao luto, e não existe maneira de aprender a lidar com ele. Algumas pessoas, quando passam por este estado emocional, conseguem enfrentar sozinha esse mergulho na tristeza, apoiando-se nos amigos, nos familiares, nas convicções pessoais e na fé; já outros, precisam de uma ajuda especializada para lidar com a situação. Não há nenhum demérito em nenhuma das duas situações.
(Fonte: Actu.fr)
A tristeza pela perda de uma pessoa famosa, como a rainha, envolve o fato de que este indivíduo, de alguma forma, nos "acompanhou" durante a vida. Uma vez que Elizabeth II viveu 96 anos, provavelmente poucos de nós conhecemos o mundo sem a sua presença, por exemplo.
A psicóloga Mariana Simonetti esclarece que o ser humano mantém vínculos afetivos de vários tipos e, quando eles são rompidos pela morte, emerge o sentimento de tristeza. "Os artistas são personalidades em que algumas pessoas buscam se espelhar. E para quem os acompanha rotineiramente, o falecimento deles passa a ser sinônimo de perda profunda", explicou ao site O Que Fazer em Caso de Morte.
Contudo, este luto é um tanto diferente em relação ao que desenvolvemos pela perda de pessoas próximas, como parentes e amigos. Isto porque nós não temos relações íntimas com o indivíduo famoso, como memórias entrelaçadas ou experiências compartilhadas.
Mas acontece um fenômeno interessante neste caso: o luto é elaborado coletivamente, por meio de comunidades com quem compartilhamos nossas impressões sobre o falecido. Provavelmente nenhum de nós conheceu a rainha pessoalmente - por isso, nossas memórias sobre ela não são baseadas em fatos, mas em ideias que foram surgindo justamente por meio desses grupos que participamos.
Depois da morte, portanto, há uma espécie de disputa sobre como esta pessoa será lembrada. Há os que falam de uma memória mais maternal da rainha Elizabeth, ou de seu senso de dever e de seu humor inglês, mas haverá também os que lembram do colonialismo do Reino Unido ou de outras questões negativas envolvendo a monarquia.
Contudo, é preciso lembrar que todos os lutos merecem ser legitimados. Por isso, se você sofreu intensamente depois que um ídolo seu morreu, saiba que está tudo certo.