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11/11/2022 às 03:00•3 min de leitura
Nos anos 2000, o biólogo Eugene Stormer e o químico Paul Crutzen cunharam a palavra “antropoceno” para se referir ao período da Grande Aceleração, a época no qual a taxa de impacto da atividade do homem sobre a geologia e os ecossistemas da Terra começaram a aumentar significativamente, por volta da década de 1950.
“Depois de 1950, você pode perceber que grandes mudanças no Sistema Terrestre se tornaram diretamente associadas às mudanças no sistema econômico global”, disse o professor Will Steffen, pesquisador da Universidade Nacional Australiana.
Existe também a teoria popular de que o progresso da vida do homem começou a impactar diretamente no meio ambiente com o início da Revolução Industrial de 1800, com a atividade humana causando um grande impacto sobre o carbono e o metano na atmosfera do planeta. Por outro lado, há quem aposte que o início do Antropoceno deve ser a partir de 1945, com a atuação desenfreada dos dispositivos atômicos e testes químicos e biológicos em larga escala.
(Fonte: 89 Iniative/Reprodução)
Seja como for, foi apenas no início de 1970 que as nações passaram a se preocupar de maneira mais ativa com o papel do homem na deterioração do meio ambiente, enfrentando os negacionistas que não acreditam que as ondas de calor, incêndios florestais, secas e inundações que devastam comunidades pelo mundo têm alguma relação com a sombra do aquecimento global.
Governos, organizações internacionais e até mesmo gigantes do negócio que movimentam a economia mundial estão se curvando para a denominada "indústria verde" – ou assim parece –, cujo objetivo é apenas conceber estratégias de hedge sofisticadas para compensar o desastre climático sem afetar os processos de industrialização e, consequentemente, a máquina do capitalismo.
Dessa forma, como iniciativa do setor privado, assim surgiu o capitalismo verde, mais conhecido como ecocapitalismo que, no entanto, especialistas consideram ser apenas mais um truque – principalmente midiático –, para evitar um acerto de contas real.
(Fonte: Science Nordic/Reprodução)
Em linhas gerais, o ecocapitalismo diz que é possível usar as alavancas econômicas do mercado para consertar o meio ambiente quebrado. Em um mundo tecnológico e, sobretudo, mais conscientizado, onde as pessoas exigem cada vez mais clareza dos impactos do homem no planeta –, a ideia se tornou uma avalanche cultural, inserindo produtos ecologicamente corretos e usando de marketing para isso.
Desde o despertar do homem na década de 1960 para os impactos ambientais, o discurso do capitalismo verde só se tornou cada vez mais difundido, com pessoas como o ex-senador dos EUA, John McCain, arrastando até um partido de céticos do aquecimento global para empregos de colarinho verde na eleição presidencial americana de 2008.
Os defensores dessa forma de sustentabilidade, sem “ferrar” com a economia, argumentam que, uma vez que combustíveis fosseis e a maioria dos demais recursos naturais são limitados e minguantes no planeta, a economia inevitavelmente enfrentará escassez em certo ponto.
Portanto, o lado positivo do capitalismo verde de usar menos recursos – energia, matérias-primas, água –, preservaria a Terra e também seria bom para os lucros. Afinal, quanto menos uma empresa gasta em insumos e quanto mais eficiente for sua linha de operação, maiores serão suas margens. Ou seja, ser ecologicamente prudente é uma maneira infalível de aumentar os resultados, fora que fica bem na frente mundial, sobretudo para derrotar concorrentes menos verdes.
(Fonte: Conserve Energy Future/Reprodução)
É provável que esteja se perguntando onde está o problema nisso tudo, certo? Afinal, de acordo com um levantamento do relatório da Global Sustainable Investment Alliance, os ativos de investimento sustentável cresceram globalmente para US$ 35,3 trilhões no ano passado, como reflexo no aumento de preocupação com desigualdades sociais e mudanças climáticas.
Contudo, maior parte desse dinheiro, cerca de US$ 25 trilhões, está na estratégia chamada Integração ESG, cuja sigla se refere à Environmental, Social and Governance. Isso significa que os gestores estão incluindo esses dados em seus modelos financeiros, transmitindo a ideia de que os "chefões da economia" estão investindo em fazer o bem ao ter uma mente mais consciente.
Mas, aparentemente, essas propostas, vendidas como ferramentas de urgência para reduzir emissões ou reverter a perda do ecossistema, não entregam nenhum dos dois. Em artigo ao The Guardian, Adrienne Buller, pesquisadora sênior da Common Wealth, especializada em finanças e crise climática, relatou que a motivação do investimento ESG não é alcançar os resultados positivos do mundo real, mas minimizar a exposição aos riscos – sejam regulamentações climáticas ou disputas trabalhistas – que podem prejudicar os retornos financeiros de grandes empresas, como Apple e Amazon, que detêm o principal fundo ESG do Vanguard.
(Fonte: Berkley Political Review/Reprodução)
O Vanguard é um fundo mútuo de índice ou ETF (fundo negociado em bolsa) que rastreia o desempenho de um benchmark de mercado específico, considerado o com menor despesa no setor, permitindo que os investidores economizem dinheiro em taxas e ajudem seus retornos a longo prazo.
Atualmente, mais de 40% do fundo Vanguard é reservado para tecnologia e finanças, o que significa que, ainda que muitos possam esperar que um grande fundo ESG invista na transição urgente para energia renovável, seu espaço é de menos de 1% na conta final. Sendo assim, a pressão de ser ecologicamente correto o mais rápido o possível mostra que grande parte da indústria não está interessada em financiar diretamente um futuro sustentável, mas em garantir que sua agenda esteja alinhada com um.
Por esse ângulo, fica claro que o ESG funciona mais como um meio de apostar na probabilidade de um futuro mais verde em vez de ajudar a construí-lo. Enquanto isso, o ecocapitalismo continua sendo vendido como ações imediatas, quando, na verdade, configuram apenas um futuro que pode chegar quando já for tarde demais.