Ciência
28/01/2023 às 07:00•2 min de leitura
Dificilmente vamos encontrar uma cultura, por menor que ela seja, que existiu ou existe totalmente sem algum tipo de dança. Em um primeiro momento, pode até parecer que temos uma tendência natural a “balançar” o corpo quando somos expostos a determinados ritmos.
Mas será que as coisas são simples assim? Se analisarmos antropologicamente, pode-se dizer que as culturas aprenderam a dançar antes de começarem a desenvolver qualquer outra atividade.
Por mais frívolo que esse tema possa parecer, há uma série de explicações sobre os motivos pelos quais dançamos.
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A coesão social é a necessidade humana de se unir com outras pessoas por meio de uma atividade comum. O sociólogo francês Émile Durkheim descreveu isso como "efervescência coletiva", que é a sensação de alegria e entusiasmo que se sente ao se unir a um grupo.
A dança é uma prática que gerou essa efervescência coletiva ao longo de toda a história. Uma pesquisa recente de Bronwyn Tarr, bióloga evolutiva de Oxford, revelou que os seres humanos têm uma tendência natural de sincronizar seus movimentos com os outros, graças a uma região do cérebro que nos ajuda a imitar os movimentos de outras pessoas. Isso cria uma onda de neuro-hormônios que nos faz sentir bem.
A música também desempenha um papel importante na dança, pois pode criar um prazer tão intenso capaz de ativar os receptores opioides no cérebro, tornando ainda mais difícil resistir ao movimento.
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Os neurocientistas Julia F. Christensen e Dong-Seon Chang se propuseram a provar, por meio de seu livro Dançar é o melhor remédio: a ciência de como mover-se para uma batida é boa para o corpo, o cérebro e a alma, que a dança tem benefícios para a saúde física e mental.
Eles analisaram estudos que avaliaram pessoas por 10 e 15 anos em seus hobbies, como nadar, correr, fazer palavras-cruzadas e dançar. O resultado: as pessoas que dançam têm menos risco de desenvolver doenças cardíacas ou demência.
Eles argumentam que três coisas tornam a dança diferente: a música, o aspecto social e o movimento. Primeiro, a música tem efeitos profundos em nosso cérebro, hormônios e metabolismo. O cérebro humano é uma máquina de previsão e gosta de se sentir seguro. O ritmo da música dá ao cérebro uma sensação de segurança e proteção.
Em segundo lugar, há o aspecto social da dança. Mover-se em sincronia com outras pessoas nos une, e até nosso sistema imunológico se regula quando estamos com pessoas com quem nos sentimos seguros. Isso produz ocitocina e prolactina, podendo nos fazer sentir consolados.
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Um estudo recente publicado na revista Current Biology descobriu que as pessoas dançam 12% mais quando é tocada música com uma frequência muito baixa. Os cientistas da McMaster University, no Canadá, realizaram o estudo para entender os elementos musicais que nos fazem querer dançar.
Eles transformaram o espaço do estudo, isto é, um laboratório, em um local para um concerto de música eletrônica, onde voluntários usando sensores de captura de movimento assistiram ao show da dupla de EDM Orphx. Durante o show, os pesquisadores alternavam a presença de frequências muito baixas (VLF) a cada 2,5 minutos e mediram a velocidade de movimento da cabeça dos participantes.
Eles descobriram que quando as VLF estavam presentes, os participantes se movimentavam 11,8% a mais do que quando essas frequências estavam desligadas. Os voluntários também relataram mais vontade de se mover nas frequências graves, e os pesquisadores notaram que essa sensação também foi relatada em outros shows. A partir dessas descobertas, os cientistas concluíram que a intensidade da dança pode ser aumentada por frequências muito baixas sem que a pessoa perceba.