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12/02/2023 às 10:00•3 min de leitura
Acidentes graves com aviões, infelizmente, costumam terminar com a morte de todos a bordo. Mas há dois casos em que mulheres sobreviveram ao cair do avião em movimento — resistindo a quedas de 3 mil metros de altura. Curiosamente, esses dois casos aconteceram com dias de diferença, entre o fim de 1971 e o início de 1972.
O segundo é o da aeromoça Vesna Vulovic, que já contamos aqui no Mega Curioso, e o primeiro é o da adolescente Juliane Koepcke.
O Lockheed Electra da LANSA. (Fonte: Wikimedia Commons)
Na manhã da véspera de Natal de 1971, o voo 508 da companhia peruana LANSA decolou da capital Lima para Pucallpa e, depois, deveria seguir até Iquitos — ambas cidades na Amazônia peruana. O avião era um Lockheed Electra, um turboélice dos anos 1950.
Além de seis tripulantes, o voo levava 86 passageiros. Entre eles, estava a bióloga alemã Maria Koepcke e sua filha Juliane, de 17 anos. Maria vivia há anos no Peru com seu marido Hans, que também era biólogo — Juliane havia nascido no país.
Maria queria voltar para a Amazônia, onde vivia, já no dia 19 ou 20 de dezembro. Mas Juliane queria participar da cerimônia de formatura de sua turma, no dia 23. Como era época de festas, a maioria dos voos estava cheio — menos este, da LANSA.
Hans Koepcke pediu para que sua esposa não voasse com a companhia, que já tinha péssima reputação de segurança por vários acidentes anteriores. Ainda assim, na manhã do dia 24, as duas mulheres embarcaram no voo 508, que teve um final trágico.
(Fonte: Wings of Hope/Youtube)
Ao chegar na planície amazônica, o avião cruzou com uma nuvem do tipo cumulonimbus. O procedimento correto seria desviar da tempestade ou pousar, mas acredita-se que os pilotos decidiram seguir viagem para não atrasar ainda mais sua programação — o voo 508 já estava com atraso de sete horas.
Pouco tempo após entrar na nuvem, os passageiros sentiram uma forte turbulência. Os objetos nos bagageiros começaram a cair pelo avião e as pessoas se desesperaram. Um raio atingiu o avião e, dez minutos depois, Juliane viu luzes no motor esquerdo.
Aí, Maria disse calmamente à filha: "Esse é o fim, acabou". Essas foram as suas últimas palavras, quando o avião começou a cair. Juliane conta que tudo ficou preto e ela só ouvia o barulho dos motores, enquanto sentia o avião caindo. De repente, o ruído parou e ela estava fora do avião, mas ainda presa no assento.
Julga-se que o fato de ter ficado presa em uma fileira de assentos contribuiu para amortecer a queda de Juliane, por questões aerodinâmicas. Além disso, ela caiu sobre copas de árvores, em meio à Amazônia peruana.
(Fonte: Wings of Hope/Youtube)
Depois disso, ela conta que não se lembra do impacto — apenas de acordar no dia seguinte, 25 de dezembro. Ela chamou por sua mãe, mas logo percebeu que estava totalmente sozinha na floresta. Embora conseguisse ouvir aviões voando, procurando destroços, a mata era muito fechada para que eles encontrassem Juliane ali.
A garota, de 17 anos, quebrou uma vértebra, rompeu um ligamento e tinha cortes nas pernas, mas ainda conseguia andar. Então, o que salvou sua vida foram as lições que os pais biólogos lhe deram, no ano e meio que viveu com eles na Amazônia.
Ainda que tivesse perdido um sapato, ela sabia que era melhor continuar com o outro pé calçado e testar o solo com esse pé, para não pisar em cobras. Ela também seguiu o curso de um riacho que encontrou, já que os cursos d'água têm mais chances de serem habitados e refletem a luz da Lua durante a noite.
(Fonte: Wings of Hope/Youtube)
Juliane seguiu o rio por dias, encontrando os corpos de três vítimas do acidente no quarto dia. Só no décimo ela encontrou algum sinal de civilização: um barco e uma cabana de lenhadores. Lá, ela encontrou também combustível para barcos, que usou para tirar as larvas que invadiam seus ferimentos — outra coisa que aprendeu com seus pais.
No dia seguinte, os lenhadores chegaram e ficaram surpresos ao ver Juliane. Mas, assim que ela explicou do que se tratava, eles a levaram em uma viagem de barco de sete horas até um local com comunicação, de onde pediram socorro. Juliane foi internada em Pucallpa e pode se reunir com seu pai. O corpo de sua mãe só foi encontrado em meados de janeiro.
Em 1972, a garota e o pai resolveram voltar para a Alemanha. Lá, ela seguiu a mesma carreira de seus pais, como bióloga. Ela conta que o acidente lhe deixou muitos traumas e lhe fez ter pesadelos. Mas, em 1988, ela aceitou participar de um documentário do diretor Werner Herzog — que deixou de pegar o voo 508 por acaso — e voltou ao local do acidente. Ela disse que foi uma espécie de terapia para ela. Em 2011, ela lançou sua biografia, falando sobre sua experiência.
Já a companhia aérea fechou pouco tempo depois, já que sua reputação foi destruída de vez após esse acidente. Somando isso às dívidas, a LANSA foi à falência.