Artes/cultura
10/02/2023 às 02:00•3 min de leitura
O café move economias desde o século XIX, e o Brasil é o maior exemplo disso. O país só cresceu e caminhou para o futuro em todos os aspectos possíveis com a exportação do produto, e até hoje sustenta o título de o maior da indústria. Segundo um relatório do Sumário Executivo do Café, de abril de 2022, a produção cafeeira brasileira foi estimada em cerca de 55,7 milhões de sacas de 60 quilos.
Os Estados Unidos seguem sendo o país que mais adquire café dos brasileiros, com 7,7 milhões de sacas, representando um volume em torno de 19,3% do total exportado em 2021.
(Fonte: Reuters/Reprodução)
Em 2019, o Instituto brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que 79% dos brasileiros apreciam o café, sendo que 13% da população mundial bebe café, considerado a segunda bebida mais popular do mundo, ficando atrás apenas da água.
Em meio a tanta popularidade e importância do produto, poucos sabem que o café já foi banido várias vezes ao longo da História.
(Fonte: Wikimedia Commons)
A começar por 1511, quando os próprios muçulmanos sofreram com os efeitos da popularidade do café. O líder de Meca, Khair-Beg, forçou o fechamento de todos os lugares públicos que comercializavam o produto devido ao seu nível pecaminoso e seus efeitos que, supostamente, violavam as leis muçulmanas sobre bebidas.
O motivo para isso, no entanto, foi porque o líder descobriu que sentimentos negativos sobre seu governo se espalhavam pelos lugares onde o café estava presente e era consumido. Essa pode ter sido a ideia mais antiga que foi incorporada na cultura brasileira: falar sobre tudo acompanhado de um bom café.
Já no final do século XVI, quando o café saiu do Oriente Médio e entrou pela primeira vez na Europa, o produto foi recebido com suspeita devido ao seu poder considerado alucinógeno, visto que o excesso de cafeína pode causar nervosismo, tremedeira e arritmia – ainda mais em um tempo em que não havia nenhuma maneira de filtrar ou equilibrar a mistura muito pura.
Contudo, havia um agravante nisso tudo: o café vinha dos muçulmanos, o que levou os padres católicos italianos a afirmarem que a bebida era "satânica", declarando sua proibição imediata. Não é nada irônico que o primeiro empecilho que o produto encontrou tenha sido a religião.
(Fonte: Christ and Pop Culture/Reprodução)
Mesmo em meio a essa ideia, os líderes da Igreja pediram ao Papa Clemente VIII para que experimentasse a bebida, e, para a surpresa de todos, ele adorou. O Papa disse que a "bebida de Satanás" era deliciosa demais e seria uma pena permitir que os infiéis a usassem exclusivamente. Portanto, era obrigação dos religiosos batizar e transformá-la em algo cristão. E foi exatamente o que fizeram.
Cavalheiros reunidos em uma "casa de café", em 1668. (Fonte: Rischgitz/Getty Images)
Os cristãos não foram os únicos que se opuseram à entrada do novo produto, o mercado também. A popularização do café representou uma ameaça ainda maior para os comerciantes de vinho e cerveja, que não gostaram da ideia de que as pessoas podiam se reunir para conversar para beberem algo que não fosse alcoólico.
Além disso, o café era uma alternativa para dar um gás nas pessoas, deixá-las mais em alerta, focadas e prontas para o trabalho – tudo o que a cerveja e o vinho não proporcionavam por muito tempo. A maneira que a indústria do álcool encontrou para revidar a ameaça da expansão do café foi apoiando as proibições de governantes, como o imperador prussiano Frederico, o Grande.
No final dos anos 1700, o imperador estabeleceu monopólio estatal sobre as importações de café determinando que, embora a aristocracia pudesse desfrutar do produto, as pessoas comuns estavam vetadas devido aos prejuízos ocasionais que o consumo poderia acarretar.
Frederico, o Grande. (Fonte: Wikimedia Commons)
Em uma proclamação que fez, Frederico afirmou a superioridade da cerveja e do vinho sobre o café, colocando em pauta o espírito patriótico ao dizer que muitas batalhas foram travadas e vencidas por soldados alimentados com muita cerveja; salientando que aqueles que optavam pelo café à bebida alcoólica, não eram confiáveis.
Até o dia de sua morte, Frederico alimentou sua campanha contra o café, tecendo críticas e aumentando os impostos cada vez mais para mantê-lo longe das mãos dos plebeus. Foi por esse motivo que, por muitos anos, o consumo de café ao longo da Prússia diminuiu drasticamente.
Desde pena de morte, como no Império Otomano, até o banimento das mulheres que se atravessem a provar a bebida na Europa, o café percorreu um longo caminho até que se transformar no queridinho da economia e das pessoas de maneira permanente.