Doomscrolling: a viciante prática de checar notícias negativas

20/02/2023 às 13:003 min de leitura

Um levantamento feito pelo Exploding Topics em janeiro de 2023 mostrou que, globalmente, as pessoas gastam em média 6 horas e 58 minutos na frente de telas – um aumento de quase 50 minutos por dia em relação à 2013. O norte-americano médio, por exemplo, gasta diariamente cerca de 7 horas olhando para uma tela, sendo que em média 3 horas e 15 minutos são em uma tela de telefone.

Um estudo publicado no JAMA Pediatrics concluiu que houve um aumento de 84 minutos diários a mais no tempo que as pessoas passam olhando para telas de televisões, computadores e celulares; demonstrando um salto da linha de base pré-pandemia de 162 minutos por dia para 246 minutos durante a pandemia.

Boa parte desse aumento vertiginoso está associado ao fenômeno doomscrolling: a prática de rolar o feed das redes sociais em busca de conteúdo negativo.

A obsessão em saber

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

Antes do advento da civilização, o medo era uma resposta antiga e conservada que serviu bem aos seres humanos, porém acabou se distorcendo nas sociedades modernas. Sobretudo no período pós-guerra no século XX, a ideia de que tudo poderia acabar com a simples explosão de uma bomba manteve as pessoas em um temor constante.

E isso não reduziu com o fim da Guerra Fria, por exemplo. Outras características foram incrementadas a esse medo patogênico, como atentados terroristas, guerra cibernética, criminalidade, pobreza, escassez extrema e catástrofes climáticas.

A pandemia do coronavírus adicionou um novo capítulo a esse medo ao ressaltar vários tipos de crise anteriores, exacerbado por notícias falsas – as famosas fake news –, teóricos da conspiração e a briga constante entre saúde pública e economia. Em 2020, o fim do mundo nunca esteve tão perto.

E em meio a tudo isso, as redes sociais possuem um papel importante. O excesso de mídia serviu para aumentar nossa tendência a navegar por notícias ruins, mesmo que nos deixem desanimados, tristes ou deprimidos. Esse doomscrolling (a junção das palavras doom, que significa "fim do mundo", e scrolling, de "rolagem") pode afetar adversamente a saúde mental das pessoas.

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

Publicado na revista Technology, Mind and Behavior, da American Psychological Association, um estudo de 2022 da Universidade da Flórida descobriu que esse hábito obsessivo está ligado à ansiedade, bem como ao uso problemático da internet e das mídias sociais.

Em meados de 2020, no apogeu da pandemia, um estudo de Darthmouth sinalizou que a quantidade de uso de telefone e a exposição a notícias relacionadas à covid-19 por estudantes universitários estava associada a maiores relatos de ansiedade e depressão.

Para Sherry Benton, psicóloga PhD, fundadora e diretora científica da empresa de terapia on-line TAO Connect, não há dúvida de que o doomscrolling pode ser viciante. As pessoas já têm um vício em celular e, quanto maior o drama da notícia, mais tendem a se perderem nela. Mesmo fazendo tão mal, isso acontece porque a sociedade possui uma urgência em olhar, aprender e entender as questões que estão acontecendo no mundo.

Evitando um hábito ruim

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

Um estudo de 2014 feito pela Academia Nacional de Ciências sobre o estresse causado pela exposição aos atentados da Maratona de Boston e o impacto da cobertura da mídia sobre o evento, deixou claro que a mídia piorou o estresse coletivo, mostrando que, sim, ela tem um papel fundamental no doomscrolling.

Afinal, por mais de um século que escritores usam manchetes sensacionalistas para vender mais jornais, ou que empresas de publicidade exageram para atrair as pessoas até o seu conteúdo. Em tempos que o tráfego online determina tudo, as visualizações se tornaram a atração principal para render lucro e colocar um site como expoente de uma notícia.

Essa busca incessante por tração de espectadores provocou uma necessidade quase incontrolável nas pessoas de ficar atento às ameaças. É por isso que buscam informações arriscadas, assustadoras e negativas, porque elas as alertam para os riscos em nosso ambiente, nos ajudando a nos preparar.

Judith Anderson, que colaborou no estudo de 2014, diz que não é preciso sempre morar no epicentro de tudo, apenas autorregular nosso consumo para que a prática seja saudável.

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