Artes/cultura
23/04/2023 às 10:00•2 min de leitura
A partir de 2020, reuniões virtuais com ferramentas como Zoom, Google Meet ou FaceTime se tornaram uma forma de interação comum. Mesmo que a vacina e a diminuição dos números da pandemia tenham permitido o retorno das reuniões presenciais, muitos trabalhadores ainda se mantém no home office — e as videochamadas continuam aí.
Pensando nisso, um grupo de pesquisadores da Universidade de Stanford (Estados Unidos) investigou os efeitos das videochamadas nas interações sociais. Os curiosos resultados das experiências foram publicados recentemente no Journal of Neuroscience.
Segundo Stephanie Balters, autora principal do estudo, as videochamadas mudam nossa forma de colaborar porque mudam nossa forma de falar. Sua principal descoberta foi que as pessoas costumam passar a palavra menos vezes em reuniões virtuais — ou seja, falam por mais tempo antes que alguém responda ou interrompa. Tal fenômeno está ligado a uma percepção menos positiva das interações sociais virtuais.
A cientista pondera que interromper alguém, ainda que para responder ou concordar, parece mais estranho pelo Zoom. Além disso, faltam "deixas" de linguagem corporal e expressão facial que indiquem que podemos falar. Então, as reuniões ficam parecendo palestras, com somente uma pessoa falando de cada vez, por mais tempo.
Para entender como as videochamadas afetavam o trabalho em equipe, os cientistas fizeram experiências com 72 participantes, divididos por duplas. Cada dupla teve que completar três exercícios, mas metade delas fez isso presencialmente e metade via Zoom. A primeira tarefa era resolver um problema, seguida por uma tarefa criativa e outra de compartilhar emoções.
Enquanto isso, todas as interações entre as duplas eram gravadas e a atividade cerebral era monitorada, por aparelhos que medem a oxigenação em diferentes partes do cérebro.
Antes e depois de cada tarefa, os participantes deveriam responder a perguntas sobre seus níveis de energia e estresse, além de avaliar o desempenho do seu colega, a qualidade das colaborações entre eles e quão próximo eles se sentiam desse colega. Por fim, os cientistas também deram uma nota, avaliando objetivamente o desempenho das pessoas nas tarefas.
Fonte: GettyImages
De modo geral, as pessoas que passavam a palavra mais vezes tinham uma percepção positiva da interação com o colega, além de irem melhor nos testes. Como dito, isso tendia a acontecer mais com quem se reunia presencialmente do que com as duplas do Zoom.
Avaliando a atividade cerebral, os cientistas notaram diferenças na coerência intercerebral (isto é, quando os dois cérebros ativam as mesmas áreas). Nas duplas presenciais, a coerência veio mais na tarefa de compartilhar emoções, enquanto as duplas do Zoom tiveram mais coerência nas outras duas. Não que isso seja necessariamente bom, explica a cientista, pois os cérebros podem apenas estar se esforçando mais.
A questão é que, em geral, os trabalhos funcionaram das duas formas. Mas a interação social foi sensivelmente prejudicada pela falta de algo simples: passar a palavra mais vezes. Quando as pessoas falavam umas com as outras, passando a palavra, os cientistas também observaram certos padrões de coerência intercerebral.
Ao fim, eles testaram uma maneira simples de diminuir a sensação ruim, de falta de conexão: elogiar seu colega. Demonstrar apreço pelo outro — elogiando suas ideias, por exemplo — é algo que ativa as regiões do cérebro relacionadas à interação social, seja no presencial ou via Zoom. Portanto, é uma maneira simples de melhorar a conexão, além de passar a palavra.
De acordo com Stephanie Balters, ela acredita que o estudo pode ajudar as desenvolvedoras de soluções de videoconferência a melhorar seus sistemas — acrescentando funcionalidades que facilitem a troca de palavras, se aproximando mais da interação presencial.
Enquanto essa função não chega no Google Meet, eu sugiro que a gente teste por conta. Se você fizer isso, conta os resultados para gente no Instagram do Mega Curioso.