Por que a Igreja considerava a prostituição um 'mal necessário'?

30/04/2023 às 06:003 min de leitura

É estimado que existam cerca de 40 a 42 milhões de prostitutas no mundo, das quais 80% são mulheres entre 13 a 25 anos. E, segundo os preceitos e a moral cristã, todas elas estão "condenadas ao inferno", uma vez que o corpo é o templo do Espírito Santo e, portanto, não pode ser profanado.

A religiosidade criou a ideia de que essas pessoas estão "perdidas", não se valorizam como seres humanos, e que devem se arrepender e implorar pelo perdão de Deus por venderem seus corpos. Afinal, como consta em Deuteronômio (23:18), "não trarás o salário da prostituta nem o aluguel do sodomita para a casa do Senhor teu Deus por qualquer voto, porque uma e outra coisa são igualmente abomináveis ao Senhor teu Deus."

Ironicamente, durante a Idade Média, a Igreja Católica apoiou a prostituição por considerá-la um “mal necessário”.

As imorais

(Fonte: Welcome Collection/Reprodução)(Fonte: Welcome Collection/Reprodução)

A prostituição é conhecida como “a profissão mais antiga do mundo”, e apesar do senso comum achar que se trata de um ditado popular, na verdade, foi cunhada pelo escritor vitoriano Rudyard Kipling, em seu conto On The City Wall (1898).

Na Bíblia Sagrada, uma mulher chamada de "Prostituta da Babilônia" aparece como uma figura de comportamento pecaminoso, significando que o Império Romano não era mais que um bando de pessoas profanas, com sua multidão de deuses e sua moral errada.

No século XIII, a Igreja Católica ditava tudo na sociedade da Idade Média, desde como beijar, qual posição mulheres grávidas com menos de 25 anos poderiam assumir na cama, até quando era apropriado ter um filho. De acordo com um estudo feito por Jacques Rossiaud, descrito em seu livro As Políticas da Prostituição Medieval, foi nesse tempo obscuro de opressão que o sexo como trabalho floresceu, sobretudo na França medieval.

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

Em uma pesquisa extensa pelos registros judiciais, contratos de casamento e sentenças de prisão das cidades de Lyon, Dijon e Toulouse, Rossiaud observou ser comum mulheres serem repetidamente vítimas de violência sexual e estupros coletivos, cometidos por grupos organizados de homens.

Com isso, as mulheres foram as únicas afetadas, perdendo o direito moral e cívico de terem uma vida estruturada, sendo forçadas a passarem o resto de suas vidas se vendendo nas ruas, em tavernas sujas ou banheiros públicos para conseguir sobreviver. Isso aconteceu porque as mulheres eram sempre culpadas por qualquer coisa que lhes acontecesse, pois, aos olhos da Igreja e da sociedade, eram fornicadoras por natureza, responsáveis por despertar a lascívia nos homens e seus impulsos malignos.

"Um mal necessário"

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Oeuvre du Musée Fabre/Wikimedia Commons)

Enquanto Tomás de Aquino lutava contra a Natureza e condenava a fornicação, a castidade e a masturbação como um mal, a prostituição floresceu e foi autorizada. Isso porque a própria Igreja a condenava tanto quanto a percebia como "um mal necessário", que protegia a sociedade de males ainda maiores.

Portanto, a Igreja deu suporte à profissão mais antiga do mundo, acreditando que as "mulheres da noite" eram responsáveis por guardar a honra e castidade das freiras, que rezavam pelo povo, e chegaram a ser consideradas até mártires.

As autoridades municipais também apoiavam o trabalho sexual porque entendiam que, aos fornecer seus serviços, as prostitutas diminuíam a violência e o terror que poderiam ser propagados pela energia sexual não canalizada, não arriscando a pureza das meninas solteiras aos olhos dos meninos que aprendiam como eram os prazeres da carne.

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Centraal Museum/Wikimedia Commons)

Mas o endosso da Igreja também acontecia porque a prostituição era extremamente lucrativa, visto que nenhum trabalho rendia mais do que aquele oferecido pela carne, ainda que esse fosse pecaminoso e condenável. Os bordéis geravam dinheiro interminável com os caixeiros-viajantes, homens solteiros, casados e aqueles que queriam iniciar seus filhos para torná-los "homens de verdade".

Sem status, influência ou posição social, as prostitutas medievais estabeleceram uma nova ordem social como mulheres agressivas que não precisavam responder aos bons costumes, ofendendo a sociedade machista. Além disso, muitas vezes foram responsáveis por abrirem caminhos e oportunidades na ascensão das mulheres, sustentando umas às outras, porque eram tudo o que tinham.

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