Artes/cultura
03/05/2023 às 11:00•3 min de leitura
As duas maiores guerras do século XX envergonharam, mataram e destruíram vários aspectos da sociedade, civilidade e humanidade; porém, suas transformações essenciais para a nossa evolução – que poderia ter sido bem mais tardia e diferente – deixaram um gosto agridoce nisso tudo.
Não é surpresa que a tecnologia moderna, de digital a mecânica, começou a florescer a partir da Primeira Guerra Mundial, e a invenção dos sutiãs também não foi diferente. Essa é a história de como os sutiãs foram inventados e como a Primeira Guerra Mundial contribuiu para sua popularidade. Confira!
(Fonte: Wikimedia Commons)
Aparentemente, tudo o que existe sobre as origens mais remotas do uso do sutiã é em contexto literário e não visual ou têxtil, portanto, não se sabe se isso foi inventivo ou não. Na Grécia Antiga, como descrito na Ilíada de Homero, as mulheres usavam uma faixa de lã ou linho sobre os seios para prendê-los.
O que pode embasar um pouco mais o surgimento do sutiã na antiguidade é sua retratação em obras romanas, como as de Martial e Ovídio, em que o objeto foi chamado de "estrofe" – o que seria uma adaptação do grego stróphion, também conhecido como mamilare, mencionado em Lisístrata, de Aristófanes. A peça era usada pela mulher média grega no dia a dia e poderia ser feita de vários materiais.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Passando pelas circunstanciais bolsas de peito ou camisas com bolsas que as mulheres usavam na Alta Idade Média, chegamos aos espartilhos na virada do século XVI. Em meados de 1500, a peça de vestuário concretizou o surgimento do sutiã. Ela se tornou item obrigatório para as mulheres da classe média e da alta sociedade ocidental, responsável por causar doenças que vão desde desmaios até atrofia muscular devido à maneira como as aprisionava.
Em meio a Primeira Guerra Mundial, a editora nova-iorquina Caresse Crosby patenteou o primeiro sutiã moderno nos Estados Unidos, a partir de uma ideia que teve enquanto se preparava para um baile de debutante. Ela vestiu um espartilho, que mais tarde em entrevistas descreveu como “uma armadura em forma de caixa de osso de baleia e cordão rosa”, mas este acabou aparecendo através de seu vestido.
Para resolver o problema, ela pediu a empregada que a trouxesse dois lenços de bolso e um pouco de fita rosa, montando e costurando os materiais em um simples protótipo que se tornaria um sutiã, dispensando o uso do espartilho.
(Fonte: Institute of Archaeology/University of Innsbruck/Reprodução)
Foi ao entrar na festa que Crosby e sua invenção começaram a fazer história, se tornando o assunto da noite entre as mulheres e as jovens, todas se perguntando como ela conseguia se mover e dançar tão livremente.
Assim que Crosby revelou sua criação, ela foi inundada por pedidos dessas mulheres para costurar sutiãs para elas também. A popularidade entre seu círculo de amigas escalou para estranhos oferecendo US$ 1 por um de seus sutiãs, fazendo com que Crosby decidisse abrir um negócio e patentear sua invenção.
Ela até conseguiu atrair alguns pedidos de lojas de departamento, mas seu negócio fracassou. Seu marido, então, a convenceu a vender sua patente para a Warner Brothers Corset Co. por US$ 1.500.
Caresse Crosby. (Fonte: Wikimedia Commons)
Isso coincidiu com o pedido feito pelo Conselho das Indústrias de Guerra dos EUA para que as mulheres americanas parassem de comprar seus espartilhos porque o metal era necessário para munição e outros suprimentos militares para a Primeira Guerra Mundial. Quando o conflito terminou, houve uma grave escassez de metal, decretando a derrocada oficial dos espartilhos e a ascensão dos sutiãs.
A princípio, a peça era de tamanho único, feita de elástico, até que William e Ida Rosenthal, fundadores do Meidenform, deram introdução ao sistema de tamanhos para os sutiãs no final da década de 1920 e início dos anos 1930. Hoje, quase 95% das mulheres nos países ocidentais usam sutiãs, fruto de uma indústria bilionária que significa um pilar na economia.