O extermínio de cães de Londres que dividiu os habitantes em 1760

11/06/2023 às 07:002 min de leitura

Chamada de "grande abate dos cães", uma matança de animais dividiu, em 1760, a população de Londres entre os que viam os bichos como ameaça à saúde pública e os que os consideravam os melhores amigos do homem. O evento histórico é considerado até hoje um divisor de águas no comportamento dos seres humanos em relação a animais de estimação na Grã-Bretanha.

Tudo começou em uma reunião do Conselho dos Comuns da cidade Londres realizada em 26 de agosto de 1760 que, em meio aos relatos sobre um surto de raiva na cidade, determinou o abate generalizado de cães durante um período de dois meses. Da mesma forma que ocorre com as doenças de gado atuais, o abate de animais era uma prática padrão para zoonoses na época. 

Embora grande parte dos londrinos argumentassem que o extermínio em massa era excessivo e imoral, isso não impediu que o prefeito Sir Thomas Chitty iniciasse os procedimentos para que, durante os meses seguintes, todos os cães encontrados nas ruas da cidade fossem executados e enterrados em valas comuns. 

Como foi feito o abate de cães de Londres em 1760?

(Fonte: Stephanie Howard-Smith/Journal of Eighteenth-Century Studies/Reprodução)(Fonte: Stephanie Howard-Smith/Journal of Eighteenth-Century Studies/Reprodução)

Além da iminente disseminação da raiva na cidade, as autoridades londrinas não sabiam o que fazer com matilhas de cães vadios que perambulavam pelas ruas. Ao optar pelo extermínio, a administração municipal acreditava piamente que a eliminação dos cães ajudaria a restringir a propagação de doenças. 

Embora haja controvérsias entre os detalhes e métodos específicos utilizados na execução de cães vadios no ano de 1760, acredita-se que recompensas monetárias foram oferecidas tanto para os abatedores municipais, como para as pessoas que se dispusessem a capturar os animais e os entregassem às autoridades. 

Isso acabou gerando situações de violência, com animais de estimação sendo perseguidos nas portas das casas ou afogados quando passeavam com os seus donos. "Não se passa por cima de nada além de pobres cachorros mortos! As criaturas queridas, de boa índole, honestas e sensatas! Cristo! Como alguém pode machucá-los?", registrou o escritor Horace Walpole.

Uma nova consciência sobre a causa animal?

Hoje, Londres é considerada uma das cidades mais amistosas para cães no mundo.(Fonte: Getty Images)Hoje, Londres é considerada uma das cidades mais amistosas para cães no mundo.(Fonte: Getty Images)

As reações da população londrina ao massacre dos cães de 1760 confundiram e envergonharam os partidários do abate. Um defensor da causa animal escreveu na época que os cachorros de Londres foram vítimas "de homens mais inúteis do que os animais que eles destruíram".

A violência do passado acabou inaugurando uma visão de mundo em que os animais de estimação são considerados mais do que companhias desejáveis ou criaturas semelhantes. Muitos consideram os cães modernos seres de pura bondade, superando em alguns aspectos os próprios seres humanos. 

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