Ciência
17/06/2023 às 10:00•2 min de leitura
Devido a um terremoto em 2015 que derrubou grande parte da história da Praça Durbar, em Katmandu, diversos templos e palácios que serviam como uma vitrine religiosa do Nepal foram reduzidos a ruínas. No entanto, em meio aos destroços, uma estrutura permaneceu intacta: a casa da deusa viva da cidade.
Nós estamos falando da divindade infantil nepalesa, a Kumari Devi, uma jovem bonita e pomposa que é capaz de trazer boa sorte através de um simples olhar. O curioso dessa história, no entanto, é que algumas das meninas nascidas em Katmandu são adoradas pela população local como se fossem um reflexo vivo dessa divindade. Entenda mais sobre essa história nos próximos parágrafos!
(Fonte: Paula Bronstein/Getty Images)
Segundo a lenda local, as Kumaris são provenientes da comunidade de Newar, conhecidos por serem os habitantes originais do vale de Katmandu. A região é conhecida por cumprir um papel vital na vida cotidiana de planetas, karma e uma série de deuses existentes nas crenças do Nepal.
A Kumari faz parte de uma família budista que adota o sistema de castas hindu e incorpora harmonia em suas relações, sem discriminar os outros. Acredita-se que Kumari seja a encarnação da temível deusa hindu Durga, que antigamente teria entrado em contato com o rei da dinastia Malla para que ele encontrasse uma criança da casta Shakya e a adorasse como a deusa era adorada.
Assim, com o passar dos anos, novas meninas são escolhidas para exercer a representação de Durga como Kumari. Tradicionalmente, existem simultaneamente três Kumaris no Nepal, radicadas nas cidades de Patan, Bhaktapur e Katmandu. Apesar das novas Kumaris nunca terem se pronunciado publicamente, a última a falar sobre a responsabilidade do cargo foi Chanira Bajracharya.
A jovem de 19 anos tinha apenas 5 quando recebeu o título. Quando uma Kumari atinge a puberdade, ela deve abandonar sua posição e retornar às fileiras dos meros mortais, abrindo espaço para que uma nova criança seja adorada como deusa.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Segundo a religião budista, toda Kumari pode receber a força invisível da Deusa Viva, que é apenas vista por sacerdotes. Em entrevistas concedidas no passado, Chanira Bajracharya, cuja tia também foi uma Kumari, afirmou ter sentido uma força curiosa quando a deusa estava presente nela.
"Sinto calor e meu corpo fica quente. É uma sensação muito agradável", relatou a jovem. Ela ainda destacou que, quando o poder da deusa estava sobre seu corpo, ela "entendia e podia conceder os desejos das pessoas". Em momentos de raiva, no entanto, ela poderia recusar as orações.
"Meu comportamento não está sob meu controle. Há alguém supremo sobre mim que me faz ouvir suas orações ou simplesmente ignorá-las", conta. A passagem de Bajracharya como uma deusa viva terminou quando ela atingiu a puberdade aos 15 anos, momento em que seus poderes foram transferidos para outra garota.
Antes da monarquia do Nepal ser abolida em 2008, era comum que os reis buscassem a benção das Kumaris. Contudo, essa tradição era tão forte na região que, mais tarde, o presidente do país também passou a curvar-se diante das jovens. Logo, não é de se surpreender que a deusa viva sinta-se "suprema" entre os nepaleses.