Ciência
08/08/2023 às 10:00•2 min de leitura
Um tweet publicado no domingo (6), com mais de 1,1 milhão de visualizações, trouxe à tona uma realidade antiga, mas sempre presente: a desigualdade social no Brasil. Com base em dados da Pnad Contínua – Rendimento de todas as fontes 2019, do IBGE, o site CHOQUEI destaca a informação de que 90% dos brasileiros tinham renda inferior a R$ 3.422 no período analisado.
Mas a coisa não para por aí: do lado oposto da pirâmide, ou seja, naquele pequeno topo de 1% onde ficam os chamados ricos, o “ponto de corte” estava na época do levantamento em R$ 28.659. Já naquela base dos 90% que ganham menos de R$ 3.422, 70% do total eram constituídos de pessoas que ganhavam até dois salários mínimos, ou R$ 1.871 na época.
Dessa forma, embora a base da pirâmide esteja bem definida, há um problema com aquele grupo dos 1% mais ricos. Ali, o IBGE junta desde profissionais liberais, como advogados e engenheiros, até a elite do funcionalismo público, aí incluídas autoridades como promotores, procuradores, auditores e políticos em geral. Mas o IBGE deixe de lado a riqueza na forma de grandes fortunas herdadas, que, aliás, são sempre subestimadas nos recenseamentos.
??ATENÇÃO: 90% dos brasileiros ganham menos de R$ 3,5 mil no trabalho. pic.twitter.com/jjJ4CSSY7P
— CHOQUEI (@choquei) August 6, 2023
Embora para os 90% dos que vivem abaixo da linha de R$ 3.422 seja fácil compreender o que é ser pobre, pois eles sabem por experiência própria, é difícil definir o que é ser rico, pois essa noção acaba sendo subjetiva. Será que é ter dinheiro o bastante para parar de trabalhar? Ou ter carro importado? Na falta de um consenso acadêmico, muita gente associa riqueza a ostentação.
De acordo com o sociólogo e pesquisador do Ipea, Pedro Ferreira de Souza, apesar de o IBGE conseguir estratificar muito bem os 90% mais pobres da população, "nos 10% mais ricos, quanto mais para cima, maior a subestimação", afirma ele à BBC News Brasil.
Assim, nesse clubinho dos que ganham mais do que R$ 28 mil, o Pnad acaba colocando em mesmo compartimento profissionais bem remunerados e alguns bilionários super-ricos.
(Fonte: GettyImages)
Para o Brasil que, em torno de desigualdade social, está no mesmo patamar de Lesoto, Botsuana, Moçambique e África do Sul, é importantíssimo conhecer o topo da pirâmide social por dois motivos, diz Souza.
Primeiramente, porque quando um pequeno percentual da população concentra grande parte dos recursos, ela tende a "usar todos os meios possíveis para converter o poder econômico em influência política e, assim, conseguir enriquecer ainda mais".
Segundo, porque é preciso saber onde o dinheiro está em tese "sobrando" para melhora a qualidade de vida dos mais pobres. Não se trata de confisco, diz o sociólogo, "mas do padrão de Estados Unidos e Europa: tributar onde tem mais dinheiro concentrado e gastar onde tem mais necessidades", conclui.