Artes/cultura
21/09/2023 às 12:00•2 min de leitura
O Jornal Corriere della Serra publicou, neste mês de setembro, uma carta provando que o papa Pio XII tinha conhecimentos sobre alguns crimes de genocídio cometidos contra judeus na Alemanha, em 1942. A carta foi descoberta pelo arquivista do Vaticano, Giovanni Coco, e sua publicação foi permitida pela Santa Sé.
(Fonte: Fred Ramage/Keystone/Getty Images)
O documento data de dezembro de 1942 e foi escrito pelo padre jesuíta Lother Koenig, que fazia parte da resistência antinazista na Alemanha. Endereçada ao secretário pessoal do papa, a carta cita três campos de concentração – Belzec, Auschwitz e Dachau – e indica que pelo menos 6 mil judeus e poloneses eram assassinados por dia em câmaras de gás.
O texto ainda sugere a existência de outras cartas, que não foram encontradas, e que provariam a comunicação entre a Santa Sé e Koening, aumentando as provas de que o Holocausto era conhecido pelo Vaticano. Até então, a posição oficial da Igreja Católica era de que a instituição só tomou conhecimento das atrocidades cometidas após o final da Guerra, quando eles foram expostos para todo o mundo.
O fato do documento ter sido apresentado pelo próprio Vaticano pode demonstrar uma mudança no paradigma de abordagem histórica da Igreja. Quando milhões de documentos de Pio XII foram abertos em 2020, o papa Francisco afirmou que a Igreja não tem medo da história. Francisco também afirmou que Pio XII vivenciou um dos momentos mais graves do mundo e que algumas de suas decisões podem ser percebidas como reticentes por alguns.
Pio XII, papa entre 1939 e 1958. (Fonte: Wikimedia Commons)
Papa Pio XII (1876 – 1958) foi o líder máximo da Igreja Católica entre 1939, início da Segunda Guerra Mundial, até sua morte em 1958. Mesmo antes da descoberta da carta, sua figura era centro de uma grande polêmica, já que o Vaticano não se opôs formalmente contra Hitler e o nazismo durante o confronto.
Há evidências anteriores de que houve um longo diálogo entre o Vaticano e a Alemanha nazista para a realização de um acordo de não-agressão. Com isso, defensores de Pio XII afirmam que ele trabalhou nas sombras, de modo a não comprometer o Vaticano em caso de uma vitória nazista na Guerra. Apoiadores também afirmam que ele trabalhou nos bastidores para salvar judeus no confronto.
Porém, para boa parte dos estudiosos, a falta de um posicionamento durante a Guerra foi um erro moral, que impediu a tomada de consciência de milhões de seguidores. A nova descoberta torna a situação ainda mais grave, já que ele tinha informações privilegiadas sobre os campos de concentração que não foram compartilhadas com os Aliados.
Os documentos de Pio XII, onde a carta foi encontrada, somam milhões de páginas e foram armazenados fora de ordem, algo incomum para o Vaticano. Portanto, é possível que novas descobertas aconteçam.