Artes/cultura
28/01/2024 às 06:00•2 min de leitura
Na década de 1990, investigadores na Bélgica encontraram um estranho crânio que tinha sido recolhido na África Central. Embora muitos atribuíssem os restos mortais a um gorila, o crânio também se assemelhava estranhamente a um chimpanzé. Com características únicas, alguns primatologistas passaram a acreditar que ele pertencia a uma nova espécie: o símio-de-bondo.
Logo se descobriu que os caçadores locais da República Democrática do Congo, onde o crânio foi originalmente encontrado, contavam muitas histórias sobre um macaco gigante que rondava a região. Essa criatura era tão poderosa que poderia matar um leão e até mesmo sobreviver a flechas envenenadas. Em pouco tempo, a lenda do símio-de-bondo começou a se espalhar pelo mundo inteiro.
(Fonte: Getty Images)
Em 1996, o fotógrafo e conservacionista suíço-queniano Karl Ammann encontrou o estranho crânio de macaco no Museu Real da África Central em Tervuren, na Bélgica. Com o interesse despertado, Ammann decidiu descobrir por conta própria se de fato existiam gorilas no norte do Congo ou se o museu havia identificado erroneamente os restos mortais.
Ao viajar para a Floresta Bili, no extremo norte do país — uma área assolada pela guerra civil —, o investigador começou a conversar com moradores da região para obter mais informações. Foi lá que ele descobriu que os habitantes locais tinham classificado os macacos das florestas próximas em duas categorias: os que batem nas árvores e os que matam os leões. Estes últimos eram tão grandes e fortes que pareciam imunes a qualquer ataque dos caçadores.
Quanto mais Ammann procurava sobre o tema, mais pistas surgiam sobre os símios-de-bondo. Ele encontrou fotos que mostravam caçadores posando com um animal que parecia ter quase o dobro do tamanho de um chimpanzé padrão, várias pegadas maiores que as de um gorila e fezes três vezes maiores que as de um chimpanzé.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Um dos primeiros pesquisadores a chegar na região foi a primatologista Shelly Williams, que identificou várias características dos símios-de-bondo. Ela notou que esses macacos misteriosos tinham rostos mais achatados e sobrancelhas retas como as de um gorila. As gêmeas, por sua vez, não tinham o inchaço genital de outras fêmeas de chimpanzé.
As observações de Williams foram dignas de nota, mas sua descrição sensacional do que a equipe estava procurando pareceu confundir Ammann. A caça a esses macacos tornou-se uma espécie de piada, transformando a espécie em um verdadeiro mito e também um grande "meme" na internet.
Nos anos seguintes, no entanto, os pesquisadores fizeram duas descobertas importantes sobre os símios-de-bondo. Câmeras de detecção de movimento finalmente capturaram imagens nítidas das criaturas e o DNA de suas fezes confirmou a existência dos chamados chimpanzés orientais (Pan troglodytes schweinfurthii). Assim como os gorilas, essas criaturas tinham uma crista no crânio e foram vistos destruindo cupinzeiros e usando pedras para quebrar cascos de tartaruga.
Contrariando a afirmação de Williams, no entanto, as fêmeas dos símios-de-bondo de fato apresentavam o inchaço genital semelhante a outros chimpanzés. Esses macacos até foram vistos consumindo carcaças de leopardos e leões, mas não os atacavam como as lendas diziam. No fim das contas, a história verídica é que os símios-de-bondo não representavam uma nova espécie de primata, mas sim um olhar fascinante sobre um grupo singularmente isolado de outros chimpanzés.