Ciência
20/02/2024 às 13:00•2 min de leitura
Arqueólogos na Holanda fizeram uma descoberta intrigante que revela um pouco mais sobre os antigos costumes romanos: um estoque de sementes venenosas, guardado em um recipiente feito de osso de animal, datado de cerca de 2.000 anos. Essa é a primeira evidência concreta de que os romanos não só coletavam, mas também armazenavam sementes da planta do meimendro-preto (Hyoscyamus niger), conhecida por seus efeitos venenosos e alucinógenos.
O achado, feito no assentamento rural romano de Houten-Castellum, na província holandesa de Utreque, foi publicado no periódico Antiquity da Universidade de Cambridge, e revisitou não apenas a presença dessas sementes, mas também a intencionalidade por trás de seu armazenamento.
Além de suas propriedades medicinais, as sementes de meimendro-preto também foram utilizadas por seus efeitos alucinógenos, conforme relatam textos antigos. Esta descoberta nos leva a repensar não apenas a medicina e os rituais dos romanos, mas também a difusão do conhecimento e práticas dentro do Império.
Osso usado como frasco (esq.) e sementes de meimendro-preto (dir.). (Fonte: Groot & van Haasteren, BIAX Consultant/Divulgação)
O frasco, feito de um osso oco oriundo de cabras ou ovelhas, estava selado com um tampão de casca de bétula-preta, mantendo cerca de 1.000 sementes de meimendro-preto no seu interior. A preservação dessas sementes dentro do frasco sugere que elas eram armazenadas com bastante cuidado para serem usadas futuramente.
A planta do meimendro-preto era conhecida pelos romanos por suas propriedades medicinais e, também, por seus efeitos alucinógenos. Plínio, o Velho, descreveu seus usos medicinais, como tratamento para febre e tosse, mas também alertou para seus efeitos perturbadores no cérebro.
O fato dessas sementes estarem em um recipiente cuidadosamente selado levanta questões sobre como os romanos usavam essas substâncias e em que contexto. Embora o meimendro cresça naturalmente em torno dos assentamentos romanos, a presença intencional dessas sementes em um frasco de osso sugere um propósito.
Tampo para selar o frasco feito com a casca de bétula-preta. (Fonte: BIAX Consult/Divulgação)
As pesquisas anteriores sugeriam que o osso confeccionado poderia ter sido utilizado como uma espécie de cachimbo para fumar as sementes, mas a falta de sinais de queima indica que esse não era o caso. Em vez disso, parece que as sementes foram armazenadas para uso futuro, talvez para práticas medicinais ou recreação.
Esta descoberta conta um pouco sobre as práticas medicinais e culturais dos romanos que viviam na região, mostrando como o conhecimento medicinal descrito por escritores como Plínio se estendia até mesmo às comunidades rurais na periferia do Império.
Além disso, o estudo levanta questões fascinantes sobre a interação entre os romanos e as comunidades locais, demonstrando como práticas e conhecimentos se difundiam pelo vasto império. Pesquisas assim nos lembram da complexidade e da riqueza das sociedades antigas, além de ser uma prova de que o uso de alucinógenos é muito mais antigo e comum do que podemos imaginar.