Ciência
24/07/2024 às 08:00•2 min de leituraAtualizado em 24/07/2024 às 08:00
Se você acha que a estética fetichista é algo muito moderno e atual, pense novamente. Nos efervescentes Années Folles em Paris, durante a década de 1920, um casal foi responsável por criar a primeira butique de fetiche do mundo, chamada Yva Richard.
Nativa Richard e seu marido, L. Richard, elaboraram trajes e acessórios como espartilhos, chapéus, sapatos e lingeries com forte apelo erótico em uma época em que a Primeira Guerra Mundial ainda se aproximava. Ainda assim, sua loja fez muito sucesso e conquistou uma ampla gama de clientes.
O casal não apenas criou uma marca fetichista, mas também decidiram tornar a exuberante Nativa como o rosto (e o corpo) à frente da loja. Claramente com propensão ao exibicionismo, ela topava ser fotografada pelo marido e por outros profissionais importantes em poses provocantes enquanto vestia os adereços ligados ao fetiche, como chicotes, coleiras, botas de salto alto, algemas e roupas de metal.
O mais interessante é que as roupas da Yva Richard eram vendidas por correspondência. O catálogo La Lingerie Moderne se espalhou por Paris e foi encontrando um grande público que gostava da variedade dos acessórios fetichistas da loja. Além disso, a marca tinha apenas uma única rival na cidade: a Diana Slip, que também era uma empresa fundada por um casal e que oferecia o mesmo tipo de produto.
Os negócios da Yva Richard só começaram a ruir com a ocupação nazista da França em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial. Nesse período, a loja acabou tendo que fechar as portas, assim como as outras empresas desse tipo que haviam surgido.
Mas isso não significou que a Yva Richard não deixou o seu legado para o mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, Charles Guyette, que é considerado um pioneiro do estilo fetichista, sendo primeira pessoa no país a distribuir arte desse estilo, teria plagiado os desenhos da marca francesa.
Outros artistas importantes também se inspiraram no trabalho pioneiro do casal Richard, como o britânico John Willie e o americano Irving Klaw, que exploraram o estilo na América e se tornaram referências na arte e no gênero cinematográfico sexploitation. Já na década de 1950, a modelo americana Bettie Page, que se tornou famosa por fotos de temática pin-up e fetichista, usava roupas muito semelhantes às que foram usadas pela própria Nativa Richard.
Por fim, há um livro, chamado Yva Richard, L'âge d'or du fétichisme, publicado em 1994 por Alexandre Dupouy, que registrou para a posteridade essa chamada "era de ouro" do fetichismo iniciada por Nativa e L. Richard. Então, caso você curta esse estilo, já sabe que parte desse gosto se deve ao pioneirismo desse excêntrico casal.