Ciência
16/10/2024 às 19:00•2 min de leituraAtualizado em 16/10/2024 às 19:00
Em meio às preocupantes mudanças climáticas que estão levando o planeta a um aquecimento global sem precedentes, um fato reconfortante é a extrema resiliência da cevada. O versátil cereal, que é um dos ingredientes-chave na fabricação da cerveja e do uísque, tem hoje sua sobrevivência garantida, graças a um experimento realizado antes da Grande Depressão, iniciado em 1929.
Batizado como "Experimento da Cevada de 100 Anos", o estudo biológico é considerado o ensaio agrícola mais longo já realizado na Terra. Iniciado na Universidade da Califórnia em Davis (UC Davis), nos EUA, o objetivo inicial foi estudar o efeito de diferentes práticas de cultivo na produção de cevada ao longo do tempo, até 2029.
Agora, em um estudo recente publicado na revista Science, o geneticista Dan Koenig, da Universidade da Califórnia em Riverside, nos EUA, descreveu dezenas de genes que contribuem até hoje para a adaptabilidade da cevada, mas não foram identificados na época do início do experimento, por ausência de uma tecnologia adequada.
Cultivada praticamente em todas as regiões com climas frios a temperados do planeta, as culturas de cevada tiveram que ser radicalmente alteradas, por seleção natural e também artificial, para se adaptarem a novos ambientes.
Como a variação genética inicial daquelas populações era na maioria das vezes desconhecida, o cientista agrícola J. L. Landis, da UC Davis, estudou a dinâmica de adaptação da cevada em um experimento comum de jardim que ele chamou de Composite Cross II (cruzamento composto em português), que incluiu todos os cruzamentos possíveis de 28 variedades de cevada.
De acordo com o estudo atual, embora o CCII tenha conseguido, a princípio, segregar quase toda a variação genética comum na cevada, essa diversidade genômica logo se perdeu, com o surgimento de uma homogeneização que se tornou a única linhagem dominante. Essa população representa hoje mais da metade dos indivíduos das gerações posteriores.
Com acesso ao experimento Barley Composite Cross II, a equipe de Koenig concluiu que a semente do experimento poderia funcionar como uma “máquina do tempo” para analisar todo o processo de adaptação e identificar quais os principais genes que permitiram essa sobrevivência durante as 58 estações de cultivo.
A equipe de pesquisa está planejando estudos adicionais para examinar dados experimentais de longo prazo de diferentes climas, e entender como o momento da floração pode ser ajustado. Na Califórnia, a floração ocorre em uma curta janela que deve terminar antes que a longa estação seca comece, ou não haverá água para produzir sementes.
Uma vez que a cevada é geneticamente parecida com o trigo, o arroz e o milho, eles pretendem usar tecnologias modernas, como engenharia genômica e a edição genética CRISPR, para que essas outras culturas cresçam ou floresçam em momentos do ano que sejam mais favoráveis.