Ciência
12/09/2019 às 08:00•2 min de leitura
Ao longo da evolução da vida na Terra os organismos tiveram que lidar com uma baixa disponibilidade de alimentos e aqueles que estavam mais bem adaptados transmitiram seus genes. Mas a dieta do homem mudou drasticamente predispondo ao desenvolvimento de doenças como o diabetes tipo 2.
Quando comemos, os carboidratos ingeridos são quebrados em moléculas de glicose. Em seguida, entram na corrente sanguínea para fornecer energia para o cérebro e as outras partes do nosso corpo. Nos músculos e nas células de gordura a glicose é transportada para dentro das células através de uma molécula chamada transportador de glicose.
Durante um jejum, ou seja, enquanto a glicose do sangue está baixa, esse transportador fica inativo dentro da célula. Quando comemos, o açúcar aumenta na corrente sanguínea e ativa o transportador de glicose (via insulina) colocando a glicose dentro da célula.
Esse transportador de glicose fica guardado dentro de uma proteína, que lembra uma gaiola de treliça, chamada clatrina. Dependendo do seu tipo ela pode “soltar” o transportador mais facilmente ou “segurá-lo” por mais tempo. Em outras palavras, ela pode facilitar ou dificultar a entrada de glicose nas células.
Pesquisadores da University College London estudaram o gene que codifica a clatrina e identificaram duas versões dele. A forma original, que surgiu há aproximadamente 450 milhões de anos, codifica uma clatrina que segura com mais força o transportador de glicose dentro da célula e uma versão mais nova, surgida entre 450.000 e 12.500 anos atrás, que produz uma clatrina mais relaxada, liberando o transportador da glicose mais facilmente.
Por milhões de anos, os organismos evoluíram com uma dieta de caçadores-coletores obrigando a uma digestão mais lenta porque a comida era consumida crua e períodos de jejum mais longos pois não havia tanta abundância como hoje.
Para este período da evolução, uma clatrina mais “forte” foi crucial, pois mantem o açúcar no sangue por mais tempo deixando-o disponível para o cérebro. Disponibilidade essa que contribuiu para o aumento do volume e complexidade do cérebro.
No entanto, nossa dieta é rica em carboidratos. E muito açúcar circulando no sangue pode causar diabetes tipo 2. Aquele diabetes em que as células ficam resistentes à insulina. Neste caso, a variante mais nova do gene pode tornar menos provável o desenvolvimento dessa resistência uma vez que retira a glicose do sangue muito mais facilmente.
Infelizmente não é todo mundo que veio equipado com a versão mais nova do gene. Atualmente os investigadores envolvidos neste projeto trabalham no desenvolvimento de um teste para identificar individualmente qual a variante do gene uma pessoa carrega . Eles acreditam que saber o tipo do gene pode encorajar a mudanças na dieta.