Artes/cultura
11/10/2021 às 11:00•2 min de leitura
Da escravidão às duas Grandes Guerras Mundiais, para tudo existe um “e se”: e se não tivesse acontecido? E se ainda existisse?
Se a Primeira Guerra Mundial e sua sucessora não tivessem acontecido, embora o mundo e a humanidade tivessem sido poupados da destruição e mortes avassaladoras, a globalização tecnológica poderia não ser tão avançada como conhecemos hoje. Tudo poderia ter demorado o dobro de tempo para ser desenvolvido ou ainda nem tivesse sido pensado.
Com o horror da peste bubônica também não foi diferente. Apesar de ter dizimado mais de 20 milhões de pessoas no século XIV na Europa ao longo de 5 anos, seu rastro de extermínio resultou em uma série de mudanças que impactaram diretamente a saúde da civilização humana e seu curso.
(Fonte: Quora/Reprodução)
Conforme as estimativas do American Scientist, entre 72% e 100% dos infectados pela peste bubônica morreram sem tratamento durante a pandemia europeia, em um cenário onde não havia estudos epidemiológicos, tampouco antibióticos que pudessem combater ou ao menos refrear a deflagração desastrosa da doença.
Em seu doutorado, a antropóloga Sharon DeWitte, da Universidade da Carolina do Sul, conduziu um estudo nos restos mortais das vítimas da peste na tentativa de avançar nossa compressão das consequências de uma pandemia.
(Fonte: NBC News/Reprodução)
Na questão política, a doença representou o início ou pelo menos a aceleração de uma grande mudança econômica e sociológica na Europa. O sistema feudal foi devastado do mais alto ao mais baixo escalão, porém a falta de trabalhadores resultou uma maior demanda e melhor tratamento para os pobres.
No período de 200 anos que levou para os níveis de população se recuperarem, o sistema medieval de servidão entrou em colapso, porque o trabalho se tornou mais valioso quando havia menos trabalhadores. E, apesar da escassez de pessoas para isso, havia mais terra, comida e dinheiro para pessoas comuns.
(Fonte: Canada's History/Reprodução)
Segundo a análise da antropóloga, a peste, ao matar milhões de pessoas que eram suscetíveis a ela, na verdade preparou melhor as gerações futuras para novos surtos. Aqueles que vieram após a pandemia, tendiam a viver mais, provavelmente beneficiados por sistemas imunológicos fortalecidos e dietas melhores, tudo graças aos ancestrais que sobreviveram à doença.
Comparando os 490 esqueletos de um cemitério da peste na Inglaterra com a ossada de 291 pessoas de dois cemitérios medievais da Dinamarca, entre lesões ósseas ou dentais que indicavam problemas de saúde, DeWitte descobriu que indivíduos mais velhos e aqueles com sinais significativos de fragilidade correram maior risco de morrer da peste do que os demais.
“Ao visar pessoas frágeis de todas as idades e matá-las em um período de tempo extremamente curto, a Peste Bubônica pode ter representado uma grande força de seleção natural”, observou a estudiosa, em matéria ao American Scientist.
(Fonte: NBC News/Reprodução)
Ficou claro para ela que a doença parece ter removido os indivíduos mais vulneráveis em uma escala muito ampla em grande parte da Europa, seja devido a sistemas imunológicos deficientes, doenças pregressas ou histórico de desnutrição severa.
Em um espectro maior, os trabalhadores começaram a enxergar o seu valor como ser humano e preencher mais lugares na sociedade, conseguindo viajar mais, buscar terras e garantir salários mais altos. O fazendeiro nasceu desse movimento, trilhando um caminho crucial em direção a melhores condições de vida para pessoas comuns.
Sem a peste bubônica, por mais devastadora que tenha sido, é difícil dizer quando essas mudanças teriam acontecido.