Artes/cultura
14/12/2021 às 11:00•2 min de leitura
Quando as pessoas correm hoje para a fila da vacinação, para tomar a sua dose de reforço do imunizante, poucos sabem que os termos “vacina” e “vacinação” têm origem nas vacas. É que o primeiro trabalho escrito sobre o assunto, de autoria do chamado “Pai da Imunologia”, Edward Jenner, foi intitulado Inquiry into the Variolae vaccinae known as the Cow Pox.
Traduzindo o inglês e o latim, percebemos que se trata de uma pesquisa sobre a Varíola das Vacas, ou seja, o “vaccinae” aí refere-se àquelas senhoras ruminantes que eventualmente nos fornecem leite. Mas, para saber como surgiram as vacinas, precisamos retornar à Europa do século XVIII, quando a varíola — uma das doenças mais contagiosas do mundo — devastava impérios e comunidades pelo mundo afora.
Causada por um vírus do gênero Orthopoxvirus, a doença pode ter matado, no início daquele século, quase 400 mil pessoas por ano. A estimativa é de que um terço dos adultos infectados morria, e pelo menos 80% das crianças. Dos sobreviventes, muitos ficavam cegos e outros desenvolviam cicatrizes permanentes.
(Fonte: Shutterstock/Reprodução)
Alguns tratamentos empregados na época eram completamente bizarros, como proibir o consumo de melão, enrolar os doentes em panos vermelhos, e até um que fez muito sucesso (mesmo entre os não infectados), no qual os médicos prescreviam 12 garrafas de cerveja a cada 24 horas.
Mas havia um tratamento eficaz, porém arriscado: a variolação, ou inoculação, que consistia em pegar o pus de um paciente afetado pela varíola e passá-lo na pele de uma pessoa saudável. Uma variante da técnica injetava o pó das cascas das feridas no nariz daqueles que ainda não haviam se infectado. Levada da Ásia e África para a Europa e América do Norte, a técnica tanto curava quanto espalhava casos graves e mortais da doença.
(Fonte: Shutterstock/Divulgação)
No início do século XVIII, bem antes do nascimento de Jenner, moradores da zona rural da Inglaterra sabiam que mulheres que trabalhavam ordenhando vacas tornavam-se imunes à varíola, mas contraíam a varíola bovina (Cow Pox) em suas mãos, que desaparecia em pouco tempo sem deixar cicatrizes.
Isso deu uma ideia a um fazendeiro chamado Benjamin Jesty: em 1774, ele esfregou pus das lesões das tetas de uma vaca com varíola diretamente na pele de sua esposa e dos seus filhos. Nenhum deles contraiu a doença. Mas somente 22 anos depois, o médico inglês Edward Jenner tomaria conhecimento dos experimentos de Jesty.
Para comprovar a teoria, Jenner realizou seu próprio “ensaio clínico”: retirou o pus de lesões de Cow Pox das mãos de uma ordenhadora e decidiu aplicar na pele de um garoto de oito anos chamado James Phipps, filho do seu jardineiro. Após a criança desenvolver uma doença branda, o médico inglês inoculou a criança com uma bolha da varíola. James (felizmente) não desenvolveu a doença e a vacina foi assim inventada.