Artes/cultura
31/03/2022 às 06:30•2 min de leitura
A esclerose lateral amiotrófica avançada (ELA) é uma doença neurodegenerativa e progressiva que afeta a capacidade dos pacientes se moverem e falarem. Ela se tornou mais conhecida após o físico inglês Stephen Hawking ser diagnosticado com a doença, chamando a atenção para um problema, que até 2040 deverá atingir mais de 300 mil pessoas no mundo todo.
Porém, a ciência está cada vez mais próxima de devolver aos pacientes, ao menos a capacidade de se comunicar. Em um estudo publicado pela Nature Communications, um grupo de pesquisadores do Wyss Center for Bio and Neuroengineering, em colaboração com a Universidade de Tübingen, na Alemanha, utilizaram uma interface cérebro-computador (BCI), para que um homem de 30 anos pudesse “falar” novamente.
Implante utilizado no paciente. (Fonte: Wyss Center/Reprodução)
O paciente possui síndrome de encarceramento completo (CLIS). Este é o caso que impede todo o controle muscular voluntário, incluindo o movimento dos olhos ou da boca. Por esse motivo, os dois microeletrodos foram implantados na superfície do córtex motor — a parte do cérebro responsável pelo movimento.
Para permitir que o paciente se comunicasse, um programa soletra as letras do alfabeto em voz alta. A partir da resposta do cérebro, era possível identificar quais letras ele queria usar para formar frases como: “Sopa de goulash e sopa de ervilha doce”, “Eu gostaria de ouvir o álbum do Tool alto” e “Eu amo meu filho legal”.
O estudo começou há cerca de dois anos, quando o paciente ainda tinha a capacidade de movimentar seus olhos. Porém, por se tratar da forma rápida da doença, os implantes cerebrais não podem se basear neste tipo de movimentação. O que acontece é que os microeletrodos leem a atividade cerebral do homem, e buscam reconhecê-los como os comandos “sim” ou “não”.
(Fonte: Shutterstock)
Apesar de ser um avanço importante e permitir que pessoas com ELA possam se comunicar com seus parentes e amigos — além de possibilitar que médicos possam entender melhor as condições dos pacientes —, o estudo expõe alguns problemas éticos.
O debate sobre neurodireitos existe há alguns anos e inspirou a criação do The NeuroRights Foundation, ONG que tem como objetivo proteger os direitos humanos nas áreas de neurotecnologia e IA. A discussão também está sendo realizada em universidades ao redor do mundo e motivou o Chile a incluir os neurodireitos na sua nova Constituição — foi o primeiro país a tomar este passo.
Entre os problemas discutidos por estes grupos estão questões que vão da possibilidade de ler demais pensamentos dos pacientes, sem suas devidas autorizações, até a possibilidade de exercer um controle sobre os seus cérebros. Se há alguns anos, isso parecia tema de ficção científica, hoje já se tornou realidade e tema de discussões sérias sobre ética na ciência.