Artes/cultura
05/08/2022 às 12:00•2 min de leitura
O riso é comumente associado a momentos de alegria e diversão. Embora ele realmente seja uma reação natural para esses momentos, em alguns casos ele pode ser uma manifestação de problemas psicológicos. Foi o que aconteceu em Tanganyika — atual Tanzânia — em 1962.
O que começou com algumas alunas de uma escola rindo descontroladamente, se tornou um surto que atingiu cerca de mil pessoas durante dois anos e meio. Crises de riso são relativamente comuns, mas a psicologia ainda discute como elas podem se tornar coletivas. Mesmo assim, casos semelhantes já foram relatados em vários lugares do mundo.
No dia 30 de janeiro de 1962, três alunas de um internato em Kashasha, no oeste de Tanganyika, começaram a rir histericamente. Incapazes de parar, em pouco tempo as risadas se espalharam pelo internato, atingindo 95 das 159 alunas. A situação ficou tão descontrolada, que a escola foi forçada a fechar porque as demais estudantes não conseguiam se concentrar nas aulas.
Os ataques de risos eram constantes, podendo durar algumas horas e chegando a 16 dias nos casos mais extremos. O internato chegou a ser reaberto em 21 de maio, mas precisou ser fechado novamente quando 57 alunas foram contaminadas. Conforme a epidemia de riso se espalhava, outras 14 escolas também precisaram ser fechadas.
Também não demorou muito para que o surto chegasse aos vilarejos próximos. Em Nshamba, a 12 quilômetros de Kashasha, mais de 200 pessoas foram contaminadas. A situação só foi controlada em junho de 1964, quando todas as vilas com pessoas rindo compulsivamente foram colocadas em quarentena. Ninguém tinha autorização para entrar ou sair dos locais, até que não fosse mais registrado pessoas rindo de maneira descontrolada.
Christian Hempelmann, da Texas A&M University, que fez pesquisas sobre o incidente, descreve a epidemia do riso como um caso de doença psicogênica ou sociogênica. Esse tipo de doença pode ter várias causas, mas está normalmente relacionada ao estresse. No caso do surto de 1962, sua origem pode ter origem no processo de independência de Tanganyika, que aconteceu um mês antes do incidente.
Em um artigo de 2007, Hempelmann apresentou explicações de outros autores para o surto. Além dos tempos sociais politicamente turbulentos, as alunas também podem ter iniciado seus risos porque estavam em um ambiente rígido de internato. Até hoje as causas que desencadearam o surto são debatidas.
O caso serve para demonstrar a complexidade dos surtos psicológicos. Ele também reforça o quanto nós somos criaturas sociais e como podemos ser facilmente influenciadas pelas ações de outras pessoas.