'Uma Garota de Muita Sorte': os danos à saúde mental da vítima de estupro

Com o lançamento da nova série da Netflix Uma Garota de Muita Sorte, que narra a história de Ani, uma jovem que sofre um estupro na adolescência e que, mesmo após aparentemente superá-lo, os traumas decorrentes dessa violência sexual ainda a atormentam, o debate sobre os impactos mentais após um estupro foi reacendido.

Durante a violência sexual, o sistema nervoso simpático é afetado e libera hormônios do estresse, o que gera um estado de alerta no cérebro, fazendo com que sua prioridade seja sair dessa situação, deixando o processamento do evento para depois.

O trauma faz com que o cérebro passe por mudanças biológicas que culminam no surgimento do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), e gera alterações no hipocampo, afetando a memória, superativando a amígdala cerebral e causando um menor desenvolvimento do hemisfério cerebral esquerdo.

Efeitos no cérebro

(Fonte: Netflix)

Quando passamos por momentos de muito estresse, terror ou medo, como em casos de estupro, nosso córtex pré-frontal, o "centro executivo" do cérebro, é afetado, em alguns casos é totalmente desligado, gerando uma incapacidade de controlar a atenção, lembrança e gerar sentido às nossas experiências.

Além disso, o trauma da violência sexual altera o funcionamento do córtex somatossensorial, parte do cérebro responsável pelas percepções, causando dores crônicas nas áreas do corpo envolvidas no estupro, redução do desejo sexual e alterações na orientação sexual da vítima.

Quando alguém passa por um estupro, ele não volta a ser o mesmo. A vítima de um estupro morre por dentro, não no sentido literal, mas os danos à mente são irreversíveis. Esse é, sem dúvida, um dos crimes mais hediondos, pois "mata" alguém que continua vivo para sofrer essa dor.

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Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, colunista do Mega Curioso, é PhD em Neurociências, mestre em Psicologia, pós-graduado em Neuropsicologia entre outras pós-graduações, licenciado em Biologia e em História, tecnólogo em Antropologia, jornalista, especializado em programação Python, Inteligência Artificial e tem formação profissional em Nutrição Clínica. Atualmente, é diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito; membro ativo da Redilat; chefe do Departamento de Ciências e Tecnologia da Logos University International, cientista no Hospital Martin Dockweiler, e professor e investigador cientista na Universidad Santander.