'Mandíbula de fósforo': a doença que levou à greve de trabalhadoras de 1888

11/11/2022 às 11:002 min de leitura

O primeiro caso registrado de "mandíbula de fósforo", ou “phossy jaw” em inglês, foi o de uma menina que trabalhava em uma fábrica de fósforos em Viena, em 1838. Nos anos seguintes, haveria cada vez mais registros dessa enfermidade que causava a necrose da mandíbula das trabalhadoras de fábricas de fósforos. Há estimativas que 11% das operárias dessas fábricas desenvolviam a doença causada porque elas aspiravam a fumaça gerada pelo fósforo branco. 

O fósforo branco é um produto químico extremamente tóxico utilizado por décadas pela indústria porque era mais barato que compostos mais seguros. Vale lembrar que durante um longo período após o início da Revolução Industrial, a saúde dos trabalhadores não era levada em consideração e as condições de trabalho eram degradantes.

Fósforos que acendiam em qualquer lugar

Caixas de fósforos da Bryant & May. (Fonte: All That's Interesting)Caixas de fósforos da Bryant & May. (Fonte: All That's Interesting)

Você já deve ter visto em alguma cena de filme ou desenho animado um personagem que acende um fósforo arrastando ele na parede mais próxima. Essa era a ideia por trás do uso do fósforo branco: criar fósforos que pudessem ser acesos em qualquer lugar. Porém, para isso, era preciso utilizar o composto químico que levava as trabalhadoras das fábricas a ter a mandíbula removida ou até à morte. E se engana quem pensa que não se sabia dos efeitos do fósforo branco na saúde humana. Suas consequências já eram conhecidas, mas os donos de fábricas o utilizavam mesmo assim.

Trabalhadora acometida pela doença. (Fonte: All That's Interesting)Trabalhadora acometida pela doença. (Fonte: All That's Interesting)

O processo de fabricação dos fósforos consistia em misturar o fósforo branco com cola e corante, depois milhares de palitos eram alinhados em uma moldura. Parte das trabalhadoras eram responsáveis por mergulhar os palitos na mistura de cola. Outras encaixotavam os fósforos após secos. Porém, enquanto faziam isso, todas respiravam a fumaça tóxica que o fósforo branco produzia.

Alguns proprietários de fábricas implementavam medidas para minimizar os danos, como instruir as trabalhadoras a lavar as mãos após o trabalho ou a cobrir a boca enquanto mergulhavam os fósforos na cola. Nada disso, no entanto, era eficaz contra a toxicidade do produto químico usado.

A greve das trabalhadoras da Bryant & May

Trabalhadoras participando da greve de 1888. (Fonte: All That's Interesting)Trabalhadoras participando da greve de 1888. (Fonte: All That's Interesting)

O movimento que culminaria na greve de trabalhadoras de 1888 se iniciou com um artigo da ativista por direitos das mulheres Annie Besant. Nele, Annie descrevia as condições de trabalho nas fábricas de fósforo: além de ter contato direto com um químico tóxico, elas recebiam salários baixíssimos, eram multadas se estivessem com os pés sujos, se falassem durante o trabalho ou se chegassem atrasadas. Uma das trabalhadoras citadas perdeu um quarto do salário por tirar os dedos de uma máquina em pane antes que eles fossem cortados.

Quando o artigo de Annie foi publicado, vários países já proibiam o uso do fósforo branco, mas a Grã-Bretanha continuava a usá-lo. A Bryant & May, uma grande fábrica de fósforos de Londres, ordenou que as trabalhadoras assinassem um documento negando as alegações feitas por Besant e quando elas se recusavam, eram demitidas. Isso fez com que 1400 operárias se recusassem a assinar e entrassem em greve, realizando protestos em frente às instalações da empresa.

O movimento das trabalhadoras conseguiu o fim das multas injustas, porém o fósforo branco só teve o uso proibido na Grã-Bretanha em 1910.

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