'Delirium' na UTI leva pacientes a achar que foram sequestrados

24/12/2022 às 08:002 min de leitura

Nesta época de pandemia, com milhões de pessoas precisando de assistência médica, os hospitais tiveram mais trabalho do que nunca. Em todo o mundo, pacientes davam entrada em instituições de saúde precisando de tratamento e, em muitos casos, até mesmo de internação.

Acontece que bastante gente acabou passando por situações esquisitas, nas quais acreditavam estar sendo vítimas de sequestros ou até mesmo virando cobaias em experimentos de laboratório. Por mais estranho que possa parecer, o fenômeno é bastante conhecido pela comunidade médica e é chamado de delirium (com "m" no final mesmo) em Unidades de Tratamento Intensivas.

Sequestro, experimentos ou apenas um delírio?

É bastante comum aos pacientes ficarem totalmente desnorteados na UTI: essas áreas dos hospitais geralmente têm todo um aparato diferenciado, com muitos equipamentos eletrônicos para monitorar a saúde dos internados, além da iluminação bastante característica. Ali, perder a noção de tempo é algo bem fácil de acontecer, e nem mesmo a presença da equipe médica e a esporádica visita de entes queridos parece ajudar muito a manter o paciente são.

Pacientes da UTI são suscetíveis a episódios de delírioPacientes da UTI são suscetíveis a episódios de delírio

E se é difícil para os acordados, imagine para aqueles que dão entrada na UTI totalmente inconscientes. Foi este o caso de Jan Ehtash, uma mulher que, quando deu por si, estava deitada de costas e totalmente paralisada do pescoço para baixo. Apavorada e sem saber o que fazer, ela tentou com todas as forças escapar daqueles que julgou serem seus sequestradores. A mulher de 58 anos conta que morria de medo de passar por um experimento científico e relata ter curiosamente percebido que os equipamentos de monitoramento pareciam se comunicar.

"Pensei que eles estavam se comunicando, aquelas máquinas, elas estavam conversando umas com as outras," conta Ehtash, que diz ter achado tudo aquilo muito assustador.

Delirium em UTIs

Obviamente, Jan não havia sido sequestrada; na verdade, a mulher havia dado entrada em um hospital de Londres, tendo entrado em coma vítima de uma infecção quase letal de covid-19. Ela passou 5 semanas desacordada no hospital, tratada não por sequestradores, mas por médicos e enfermeiras que fizeram de tudo para salvar sua vida.

Tanto a sua paralisia quanto as alucinações relatadas pela mulher são um efeito bastante comum, conhecido pela comunidade médica como delirium em Unidades de Tratamento Intensivas (ou delirium em UTIs). Muitas vezes os pacientes ficam tão debilitados que simplesmente não conseguem diferenciar a internação de um sequestro ou prisão, explica o Dr. Larry Mulleague, consultor da UTI no Hospital SR. Helier, na cidade londrina de Carshalton, na Inglaterra.

Alguns quadros podem deixar pacientes internados totalmente desnorteadosAlguns quadros podem deixar pacientes internados totalmente desnorteados

O médico explica que, nesses casos, o paciente tem grande perda do controle de suas funções, sentindo ainda muito medo. A estressante situação tem impacto tanto físico quanto mental, fazendo até mesmo com que a pessoa pareça confusa e tenha dificuldade de se expressar. Mas, segundo ele, ainda que os sintomas sejam semelhantes, as experiências relatadas pelos pacientes costumam ser diferentes.

"Alguns dos pacientes mais sortudos acabam alucinando que são personagens extras em alguns de seus livros favoritos, como Alice no País das Maravilhas," explica o Dr. Mulleague. "Mas mais frequentemente as alucinações são muito assustadoras com temas como sequestro, tortura, afogamento e espionagem."

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