Artes/cultura
06/03/2023 às 06:34•2 min de leitura
Os alimentos ultraprocessados podem causar a morte de 57 mil pessoas a cada ano no Brasil, de acordo com estudo feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O número é superior aos óbitos por homicídios no país, que chegam a 45,5 mil registros anuais.
Publicado no periódico American Journal of Preventive Medicine em novembro passado, o levantamento, que teve ainda as participações de pesquisadores da Universidade de Santiago (Chile) e da Fiocruz, foi baseado em dados de 2019. O objetivo era analisar o impacto desta categoria de alimentos sobre a saúde.
Na investigação, foram considerados ultraprocessados os itens com “formulações industriais produzidas com partes de alimentos e misturados com aditivos sintetizados em laboratórios”. A lista inclui pizzas, nuggets, salsichas, salgadinhos em pacotes, alimentos com sódio, açúcar e gordura saturada e refrigerantes, entre outros.
(Fonte: Getty Images)
A análise também considerou a existência de diversas pesquisas que associam o consumo de alimentos ultraprocessados com o aumento de peso e o risco elevado de diabetes, câncer e doenças cardiovasculares. Os especialistas ressaltaram ainda que estes produtos causam alterações na microbiota intestinal e aumentam os riscos de inflamações.
O elevado consumo de ultraprocessados no Brasil tem relação com incentivos fiscais e subsídios que barateiam estes alimentos, conforme matéria da BBC publicada na sexta-feira (3). Um exemplo é o decreto assinado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em abril de 2022, zerando o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para concentrados e extratos incluídos na fabricação de refrigerantes.
Com a medida, as empresas teriam subsídio de até R$ 1,8 bilhão em três anos. Porém, o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou o decreto, alegando que a medida traria prejuízos para a Zona Franca de Manaus, um dos maiores polos industriais do país, onde também se produz a bebida.
(Fonte: Getty Images)
Por outro lado, o pouco apoio dado aos pequenos agricultores torna os alimentos frescos mais caros do que os ultraprocessados, como afirmou a pediatra e nutróloga Maria Paula de Albuquerque, em entrevista à publicação. Para ela, a indústria também precisa ser mais cobrada pelos eventuais danos à saúde dos consumidores.
Diante do quadro, o consumo dos ultraprocessados aumentou 46% entre 2002 e 2018, de acordo com levantamento feito pelo professor de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Walter Belik. No mesmo período, houve queda de 7% no consumo dos alimentos in natura.
A taxação dos alimentos ultraprocessados é uma alternativa apontada por especialistas para mudar o quadro, ao mesmo tempo em que aumentaria a busca por opções saudáveis. A inclusão de alertas nas embalagens seria outra solução.
Uma redução de 20% no consumo desses produtos é suficiente para evitar 12 mil mortes, como explicam os responsáveis pela pesquisa citada no início do texto. Já a redução de 50% pouparia 29 mil vidas a cada ano.