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14/05/2023 às 08:00•2 min de leitura
O sal rosa do Himalaia se tornou muito popular em cozinhas de todo o Brasil nos últimos anos — especialmente na casa de quem procura manter uma dieta saudável. Tem quem diga que os cristais de sal cor-de-rosa têm menos sódio que o sal refinado comum, e até que eles ajudam a regular o açúcar ou acidez no sangue.
Será que essas afirmações têm fundamento? Isso teria algo a ver com a cor diferente do sal?
(Fonte: Getty Images)
Antes de tudo, é interessante observar que o sal do Himalaia realmente é extraído dessa parte do mundo — isso, pelo menos, não é "jogada de marketing". Porém, ele não vem de montanhas cobertas de neve, como o Everest. As minas de sal ficam em colinas no norte do Paquistão, no limite da cadeia de montanhas do Himalaia, a mais de 1400 km do Everest.
Reza a lenda que o sal foi descoberto quando os cavalos de Alexandre, o Grande, começaram a lamber o chão.
Então, em vez de monges budistas ou nômades extraindo o sal das montanhas com técnicas milenares, o que temos são centenas de trabalhadores paquistaneses, que trabalham em um negócio milionário. Da região de Punjab, cerca de 400 toneladas de sal rosa são exportadas, todos os anos.
A mina de Khewra é uma das maiores do mundo, com 40 quilômetros de túneis, que começam na superfície e se estendem 730 metros adentro. Centenas de mineradores extraem as pedras cor-de-rosa e trazem para fora, de onde são transportadas até a fábrica — e exportadas para o mundo todo. Não é só aqui no Brasil que o sal rosa virou moda, afinal. A mina de Khewra é tão grande que tem até uma mesquita dentro dela.
A mesquita dentro da mina de sal (Fonte: Wikimedia Commons)
Há uma série de terapias tradicionais da região que utilizam a pedra, assim como promessas de que seu uso na comida seria benéfico à saúde. Contudo, nenhuma dessas afirmações têm evidências científicas, ainda que pesquisas tenham sido feitas.
Dizem que o sal do Himalaia emite íons negativos, que estariam ligados ao bem-estar. Mesmo que a parte dos íons negativos realmente tenha um fundamento científico, nenhuma pesquisa os encontrou no sal rosa.
Também há quem diga que o sal do Himalaia tem outros minerais, que seriam os responsáveis por seus benefícios à saúde. De fato, ele pode ter ferro, cálcio, zinco, cromo e outros minerais. A cor rosa, aliás, está relacionada à presença de óxido de ferro nas rochas.
As colinas de onde o sal do Himalaia é extraído (Fonte: Wikimedia Commons)
Contudo, nenhum desses minerais está presente em quantidades suficientes para fazer efeito no organismo. Até porque não devemos comer mais do que 5 gramas de qualquer tipo de sal (uma colher de café, mais ou menos). Ainda que digam que esse sal têm menos sódio, isso não é verdade — os dois têm a mesma quantidade, basicamente. Então, se você precisa diminuir o consumo de sódio para evitar cálculo renal ou hipertensão arterial, ele não é uma solução.
Na realidade, o sal do Himalaia até pode ser prejudicial em um ponto: ele não tem iodo. Esse elemento químico é pouco presente em outros alimentos, mas é essencial para evitar o bócio (o aumento da tireóide). Por isso, o sal refinado no Brasil tem adição de iodo.
Em resumo, você pode até continuar consumindo o sal do Himalaia. Mas só porque gosta do sabor ou acha os cristais cor-de-rosa mais bonitos — e não porque faz milagres à saúde.