Estilo de vida
18/05/2023 às 13:00•2 min de leitura
Alguns distúrbios reais parecem ter saído de histórias de horror. Com certeza, a paralisia do sono é um desses casos. Ela se caracteriza pela sensação muito perturbadora de estar com a mente ativa e consciente, mas mesmo assim não conseguir movimentar o corpo, falar ou fazer qualquer tipo de movimento. Para completar, podem acontecer alucinações.
Esse distúrbio do sono é descrito pelos seus portadores como realmente desesperador. Os episódios costumam acontecer na transição entre o sono e a vigília, ou seja, quando a pessoa está despertando ou pegando no sono.
O mais intrigante é que, mesmo que a ciência já tenha explicado as razões deste fenômeno, essa parassonia (nome dado para as perturbações do sono) continua muito viva nas superstições e crendices espalhadas pelo mundo.
(Fonte: El País)
Antes de houver qualquer tipo de explicação científica sobre a paralisia do sono — o que começou a ocorrer durante o Renascimento —, acreditava-se que ela era causada por bruxas malévolas. Quem apresentasse os sintomas provavelmente estava sendo dominado por bruxas.
Há também remissão à paralisia do sono no famoso episódio das bruxas de Salem. A professora Alice Vernon, autora do livro Night Terrors, acessou documentos do julgamento e notou que muitas acusações envolvem encontros com "bruxas" ligadas a episódios de paralisia do sono. "No testemunho de Richard Coman contra Bridget Bishop em 2 de junho de 1692, ele descreve Bishop abrindo as cortinas ao pé da cama, deitando-se sobre seu corpo e esmagando-o para que ele não pudesse falar ou se mover. Bishop foi a primeira a ser executada", conta.
O cinema é outro espaço em que as superstições sobre bruxas e paralisia do sono foram constantemente renovadas. Em Babadook, filme de 2014, a personagem de Essie Davis fica paralisada na cama enquanto vê o monstro deslizar no seu quarto. Já em Noite Passada em Soho, de 2021, uma personagem fica presa também na cama, mas pelas mãos fantasmagóricas de homens assassinados.
(Fonte: Tatler Asia)
O que se observa, segundo a professora de literatura Alice Vernon, é que a superstição sobre a paralisia do sono está sendo sempre renovada pela ficção. Cada vez que o distúrbio aparece em livros e filmes, ele é mostrado de forma a confundir as fronteiras entre o "herói" e a "bruxa" — mesmo que esta última seja um personagem apenas imaginado.
Nas obras, os problemas emocionais dos protagonistas se mostram por meio de "demônios" que se manifestam na paralisia do sono. Ou seja, o terror — que aparece no espaço pessoal e doméstico do lar — seria algo criado por nós mesmos e por nossos "monstros" internos. E o problema de tudo isso é criar um estigma em torno de um fenômeno físico, e não psicológico.
Para completar a equação, vivemos numa época em que há muita preocupação com o sono. Ele é estudado pela neurociência e há uma ampla discussão sobre os hábitos em torno dele, como a chamada "higiene do sono". Embora tenhamos nos afastado temporalmente da época em que se via o sono como algo extremamente misterioso, a paralisia do sono permanece dentro do imaginário como algo que teria explicações sobrenaturais.