Ciência
26/05/2023 às 13:00•2 min de leitura
Cientistas do Instituto Federal Suíço de Tecnologia em Lausanne (EPFL), na Suíça, criaram e implantaram uma interface cérebro-espinhal (BSI) inédita que conecta o cérebro humano à medula espinhal. Com isso, um paciente com tetraplegia crônica conseguiu se levantar e caminhar normalmente em espaços públicos.
De acordo com o estudo publicado quarta-feira (24) na revista científica Nature, essa BSI "consiste em sistemas de gravação e estimulação totalmente implantados que estabelecem uma ligação direta entre os sinais corticais e a modulação analógica da estimulação elétrica peridural visando as regiões da medula espinhal envolvidas na produção da caminhada".
Como o objetivo da equipe de pesquisa era tirar logo o dispositivo do ambiente laboratorial e levá-lo logo à clínica, um voluntário holandês de 40 anos chamado Gert-Jan Oskam teve os dispositivos eletrônicos implantados em seu cérebro. A delicada cirurgia foi realizada pela neurocirurgiã e professora da Universidade de Lausanne Jocelyne Bloch.
Design, tecnologia e implantação de uma BSI.
A dra. Bloch, que também é coautora do artigo, fez a operação em Gert-Jan em julho de 2021. O primeiro procedimento foi fazer dois orifícios circulares de 5 cm de diâmetro em cada um dos lados do cérebro, logo acima das regiões envolvidas no controle do movimento.
Nos furos, foram colocados dois implantes em forma de disco, que transmitem os sinais cerebrais (as intenções do holandês), via wireless, para dois sensores presos a um capacete.
O circuito é "fechado" com um algoritmo desenvolvido pela equipe de pesquisadores, que consegue traduzir esses sinais sinápticos em instruções para mover os músculos das pernas e dos pés através de um segundo implante que Bloch também inseriu em volta da medula espinhal de Gert-Jan, nas terminações nervosas relacionadas à caminhada.
Embora o sistema ainda esteja em fase experimental, fez toda diferença na vida de Gert-Jan Oskam. "Eu me sinto como uma criança aprendendo a andar de novo", disse o ex-ciclista à BBC. Capaz hoje de ficar de pé sozinho e até subir escadas, ele comemora: "Foi uma longa jornada, mas agora posso me levantar e tomar uma cerveja com meus amigos".
A tecnologia dos implantes cerebrais se baseia em um trabalho preliminar do professor Grégoire Courtine, da EPFL, que também liderou o atual projeto. No estudo anterior, só o implante espinhal era utilizado para recuperar os movimentos, amplificando os sinais fracos do cérebro para a parte lesada da coluna vertebral.
Agora, na nova pesquisa, esses sinais são intensificados ainda mais pelo algoritmo. Com algumas semanas de treinamento, Oskam já conseguia ficar de pé e andar com o auxílio de um andador, disse Courtine à BBC. "Vê-lo andar tão naturalmente é muito comovente. É uma mudança de paradigma em relação ao que existia antes", conclui o professor.