Como é viver com Transtorno Dissociativo de Identidade?

01/06/2023 às 09:003 min de leitura

O Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI), também chamado de "múltiplas personalidades", se tornou um prato cheio para a cultura popular. Essa condição psiquiátrica já era debatida na medicina tradicional chinesa, começou a ser estudada mais a fundo no século XIX e tomou os holofotes na cultura ocidental em meados do século XX.

Mais especificamente, o boom pode ser atribuído ao filme As Três Faces de Eva, de 1957, que é baseado num caso psiquiátrico real de uma moça norte-americana. Esse filme inspirou também a novela brasileira Irmãos Coragem (1970), na qual Glória Menezes interpretava a recatada Lara — que, por vezes, dava lugar à sensual Diana ou à ponderada Márcia, um meio-termo. 

Posteriormente, produções como Clube da Luta, Cavaleiro da Lua e Fragmentado mantiveram o Transtorno Dissociativo de Identidade na cultura popular. Mais recentemente, diversos perfis em redes sociais como o TikTok se dedicaram a debater o assunto — com muitas pessoas que afirmam sofrer do transtorno. Tal abordagem, entretanto, também gera críticas. 

Dito isso, o que de fato é o transtorno e como é viver com ele? 

Um diagnóstico difícil e polêmico

Ainda que o Transtorno Dissociativo de Identidade faça parte do DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), uma real definição do problema e até sua existência são debatidos por especialistas. 

Muitos afirmam que é possível "fingir" ter várias personalidades, que elas podem aparecer com certos processos terapêuticos ou que a dissociação, na verdade, seria uma forma grave de um transtorno de personalidade borderline ou da esquizofrenia.

Para aqueles que defendem o Transtorno Dissociativo de Identidade como uma condição real e separada, ela é definida pela existência de mais de uma personalidade por um longo período de tempo. A personalidade principal geralmente perde a memória quando as outras "entram".

Filme As Três Faces de Eva (1957) trouxe o Transtorno Dissociativo de Identidade para a cultura popular (Fonte: Britannica/Reprodução)Filme As Três Faces de Eva (1957) trouxe o Transtorno Dissociativo de Identidade para a cultura popular (Fonte: Britannica/Reprodução)

Contudo, também há relatos de que as personalidades conversam entre si no "espaço mental" da pessoa que sofre com o transtorno. Elas podem criar regras para quando uma ou outra vai entrar, até porque as personalidades costumam ter funções diferentes na vida da pessoa.

O transtorno está conectado ao estresse pós-traumático, especialmente na infância. De forma resumida, a pessoa "cria" as outras personalidades para lidar com questões que não consegue processar — como um abuso físico, psicológico ou sexual. 

O tratamento do Transtorno Dissociativo de Identidade é difícil envolve a psicoterapia, além da psiquiatria. É possível administrar medicamentos para aliviar os sintomas. 

O testemunho das personalidades

Em 2019, um caso de Transtorno Dissociativo de Identidade virou manchete internacional: Jeni Haynes "chamou" suas personalidades para testemunhar contra o pai, Richard, que abusou de forma sistemática e bárbara da própria filha. Dos 4 até os 11 anos, Jeni sofreu o que a justiça da Austrália chamou de tortura. 

Quando os abusos físicos e psicológicos começaram, a primeira personalidade que surgiu foi Symphony — uma menina de quatro anos, como Jeni era quando a violência começou. Então, surgiram outras. Ao todo, mais de 2 mil personalidades passaram pelo corpo dessa mulher ao longo de sua vida, como forma de lidar com a tortura sofrida nas mãos do pai. 

"Eu criei pessoas para lidar com o que eu não conseguia lidar", conta ela. A violência foi tanta que a moça ficou traumatizada pelo resto da vida e só conseguiu contar tudo à mãe — para, a partir disso, levar o caso à justiça — quando já era adulta.

Nessa entrevista ao programa 60 Minutes, em inglês, é possível ver quando Jeni "chama" suas personalidades para contar diferentes partes de sua história:

Symphony conta que, a partir da hora em que ela surgiu, os abusos passaram a ser sofridos por ela — Jeni saía de cena. Cada personalidade que surgiu depois tinha funções diferentes para a mulher e, inclusive, testemunhou sobre partes diferentes do caso, no tribunal. 

Muscles, um rapaz de 18 anos, vinha para falar sobre os abusos físicos. Já Linda, uma elegante mulher, falou sobre o impacto dos abusos na vida escolar e nos relacionamentos de Jeni. Mas foi depois de um depoimento de Symphony, que durou 2h30, que Richard confessou os seus crimes. Ele foi condenado a mais de 30 anos de prisão e Jeni recebeu uma indenização.

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