Artes/cultura
15/06/2023 às 02:00•3 min de leitura
Recentemente, a Inteligência Artificial se tornou o centro de uma série de desenvolvimentos tecnológicos e mudanças na sociedade. A tecnologia, em pouco tempo, obteve uma popularização exponencial, gerando entusiasmo na mesma medida em que gerou temor, mas além disso, a IA também é um poderoso fator para potencializar os efeitos da tecnologia em nosso cérebro.
Desde o “boom” da internet, das redes sociais e das tecnologias digitais nos anos 2000, pudemos perceber diversos impactos à nossa saúde mental e ao funcionamento do nosso cérebro, como ansiedade, depressão, narcisismo patológico, falta de foco e uma lógica da incoerência, mas a IA trouxe consigo uma evolução especialmente delicada que, se não for bem utilizada, pode trazer consequências negativas ainda mais graves.
Nós somos seres orgânicos. Nosso cérebro é conduzido por meio de estímulos, no entanto, com as redes sociais houve um processo de aceleração de digitalização de uma enorme parcela da interação com a sociedade, o que destoa dos instintos mais básicos que regem nosso cérebro há milhares de anos e que, a despeito das revoluções tecnológicas, persistem.
A IA é, em última análise, um processo virtual e abstrato, o que, em larga escala e com uma expressiva presença no nosso dia a dia, gera confusões e alterações que reconfiguram nosso cérebro de uma forma perigosa e compromete o nosso pensamento, fazendo com que o real fique cada vez mais flexível, fornecendo ferramentas poderosas para pessoas com transtornos criarem uma realidade que lhes pareça mais amigável e a “venda” como a verdade. Se antes o narcisismo patológico já era perigoso com o uso das redes sociais na busca pela “imagem perfeita”, com a IA praticamente não há limite para as ferramentas que estarão nas mãos de narcisistas.
Este tipo de alteração anatômica do cérebro está relacionada a essa cultura das redes sociais por meio da distorção da realidade, que grande parte das vezes não é sequer relacionada aos transtornos que cada vez se tornam mais comuns, mas na verdade são reações às mudanças no cérebro que não dependem exclusivamente de predisposição genética.
Atualmente, já vivemos em uma era onde as pessoas criam a sua própria realidade e se convencem dela, muitas vezes através dos transtornos mentais que distorcem a verdade para torná-la mais aceitas por nós mesmos, trazendo um falso alívio gerado por uma descarga desregulada de neurotransmissores, o que com ferramentas que alteram tão fácil e significativamente a realidade como a IA chega a patamares absurdos.
É importante reforçar que a Inteligência Artificial deve continuar o seu progresso por ser bastante benéfica, ajudando no tratamento de doenças, para melhorar a qualidade de vida, otimizar processos, etc., mas isso só se aplica se seu uso for feito corretamente e sem excessos. Esse tipo de movimento não é só perigoso individualmente, mas também mundialmente, pois com o tempo, uma maioria que acredita em uma distorção irá “engolir” a minoria com consciência, coerência e razão lógica da realidade.
Por isso, a preocupação com a Inteligência Artificial não é em vão, nós temos uma disputa de grandes cérebros, em que existem os cérebros que pensam em si e não no bem comum, de forma egoísta, e existem os cérebros que pensam de forma preventiva para proteger a humanidade, o que obviamente é mais assertivo.
Tudo isso, nos leva a concluir que mesmo com as mais poderosas e avançadas tecnologias, nós não somos tão poderosos quanto achávamos que éramos, a maior prova disso é que existem animais que são muito mais preparados para a sobrevivência do que nós, enquanto nós ainda precisamos desenvolver nosso lobo frontal. A mesma inteligência que desenvolvemos, também é capaz de destruir, é por isso que grandes cérebros se preocupam, por ter uma noção muito mais plausível das consequências para a sociedade, todos querem ser lembrados por seus feitos, deixar o seu legado, mas um legado só é válido se ainda houver alguém para vê-lo.
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Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, colunista do Mega Curioso, é PhD em Neurociências, mestre em Psicologia, pós-graduado em Neuropsicologia entre outras pós-graduações, licenciado em Biologia e em História, tecnólogo em Antropologia, jornalista, especializado em programação Python, Inteligência Artificial e tem formação profissional em Nutrição Clínica. Atualmente, é diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito; membro ativo da Redilat; chefe do Departamento de Ciências e Tecnologia da Logos University International, cientista no Hospital Martin Dockweiler, e professor e investigador cientista na Universidad Santander.