Mulher com morte cerebral dá à luz um bebê vivo

29/08/2023 às 10:002 min de leitura

Conforme foi relatado recentemente na revista Cureus, uma mulher grávida com morte cerebral constatada conseguir dar à luz um bebê saudável por meio de cesariana. Embora incidentes semelhantes sejam raros na literatura medicinal, uma revisão sistêmica feita por pesquisadores da Universidade da Flórida constatou que 35 casos semelhantes aconteceram nos últimos anos.

Dentro desses 35 casos, 27 terminaram no nascimento de uma criança viva, incluindo três partos naturais. O caso mais recente, conforme descrito pelos cientistas, aconteceu com uma mãe de 31 anos que estava grávida de 22 semanas quando se apresentou no hospital com fortes dores de cabeça.

Gravidez de risco

(Fonte: GettyImages)(Fonte: GettyImages)

Logo após se apresentar ao hospital, a mulher grávida passou a experimentar "atividade semelhante a uma convulsão", antes de parar de responder definitivamente. “Os resultados do exame preencheram os critérios da medicina nuclear para 'morte cerebral' e o paciente foi declarado morto no dia da admissão”, escreveram os autores do estudo.

Análises posteriores revelaram que a mulher havia sofrido uma hemorragia no cérebro. Após uma reunião multidisciplinar com neurointensivistas, especialistas em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal, obstetras, equipes jurídicas, éticas e assistentes sociais, a família da paciente expressou o desejo de manter a gravidez e procurar por métodos viáveis do feto nascer saudável.

Para conseguir realizar tal feito, foi preciso forte intervenção médica. A mãe com morte cerebral foi colocada em um ventilador e teve uma sonda nasogástrica inserida em seu corpo. Além disso, os médicos também tiveram que regular seus níveis de tiroxina e pressão arterial, enquanto anticoagulantes eram administrados para evitar a formação de coágulos. 

A paciente sofria de inúmeras infecções, resultando em pneumonia e outras complicações. Vários medicamentos, incluindo antibióticos, foram administrados para proteger a saúde do feto. Após 11 semanas de cuidados intensos, os cirurgiões finalmente conseguiram realizar uma cesariana, dando à luz um bebê com 33 semanas de gestação.

Operação bem-sucedida

(Fonte: GettyImages)(Fonte: GettyImages)

De acordo com os pesquisadores, a criança passou bem após o parto e não precisou de reanimação. Ela foi diretamente levada à UTI neonatal para internação secundária à idade gestacional. Contudo, o bebê recebeu alta para casa depois de cinco dias no hospital.

Embora casos como este sejam extremamente raros, eles não são inéditos. Segundo a revisão médica mencionada anteriormente, cerca de dois terços das mulheres que sofrem morte cerebral durante a gravidez têm um sangramento no cérebro antes do parto. Das 35 pacientes identificadas, 69% necessitaram de tratamento para infecções como pneumonia ou sepse, enquanto 63% desenvolveram instabilidade circulatória.

No geral, a idade gestacional no momento do diagnóstico da morte cerebral é o que mais dita o resultado. Somente 50% dos casos que entraram em coma antes das 14 semanas de gravidez tiveram bebês vivos. Em contraste, os nascimentos de bebês vivos aconteceram em 100% dos casos após 24 semanas de gestação.

Apesar das estatísticas surpreendentemente positivas, os autores do estudo especulam que as taxas de sobrevivência podem ser inflacionadas devido ao "viés de publicação". Por outras palavras, casos de morte cerebral na gravidez podem ser mais comuns do que o conhecido, mas resultados negativos podem ser subnotificados.

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