Artes/cultura
09/09/2023 às 14:00•2 min de leitura
Às vezes, ouvimos as pessoas dizendo que estão ouvindo o seu "relógio biológico" depois de um certo tempo, dando sinais de alguma coisa. Uma notícia recente trouxe curiosidade sobre o suposto mecanismo do corpo: a atleta espanhola Beatriz Flamini permaneceu 500 dias numa caverna até voltar à vida normal. Segundo relatou, ela teria perdido a noção do tempo quando chegou no 65º dia.
Mas será que isso é verdade, e as pessoas (e os animais) realmente têm um "relógio" interno que funciona para além do controle externo, avisando sobre o tempo? Vejamos o que a ciência tem a dizer sobre isso.
(Fonte: GettyImages)
O que se entende por relógio biológico também poderia ser chamado de uma sincronização dos sistemas que compõem os organismos. Os órgãos, na verdade, estão conectados a vários mecanismos, como o ritmo circadiano, que descreve os ciclos repetitivos e naturais de mudanças físicas, emocionais e comportamentais que ocorrem em um período de aproximadamente 24 horas (vale lembrar de "circa" significa "por volta de"; ou seja, é o ritmo que dura cerca de um dia).
Mas os ritmos biológicos não são exclusivos da vida humana. Eles estão no cerne da existência, e passam por todos os níveis, indo do molecular até a completude do organismo de um ser. Dentre as fases inclusas nesses ciclos, estão a temperatura do corpo, as mudanças hormonais, o metabolismo, o sistema cardiovascular e o ciclo do sono.
Algumas doenças também tem associação com esses ritmos. A asma, por exemplo, costuma ser mais grave à noite, e os acidentes cardiovasculares são mais frequentes pela manhã. O trabalho por turno, em que as pessoas fazem turnos em diferentes horários, pode prejudicar o acompanhamento deste ciclo, o que, segundo a OMS, pode ser um agente causador de câncer.
Uma forma muito clara de verificar as implicações desse relógio circadiano é bem simples: basta observar os efeitos do jet lag, que é um distúrbio temporário do sono que ocorre quando o relógio biológico do corpo sai de sincronia com os sinais de um novo fuso horário, em situações de viagens.
Aos poucos, os sinais do ambiente fazem com que o indivíduo comece a ressincronizar: a luz percebida no fim da noite vai aos poucos atrasando o organismo. Isso costuma acontecer em aproximadamente 24 horas.
(Fonte: GettyImages)
Os animais também têm seu próprio ciclo circadiano. Na drosophila, a chamada mosca-da-fruta, isso foi descoberto ainda na década de 1970. Biólogos verificaram nela a existência de vários genes cuja manifestação oscila de acordo com a luz.
Ou seja, o relógio biológico dos animais e outros seres vivos se manifesta por meio de genes cuja expressão muda conforme o tempo. Isso já foi identificado em vários organismos, como fungos, cianobactérias, plantas e animais, aqui incluindo os humanos.
Em algumas espécies, o relógio biológico é sazonal: alguns pássaros e insetos, por exemplo, migram em certas fases do ano, assim como há espécies que hibernam e as plantas que florescem uma vez por ano. Nesses casos, o ciclo é chamado de circanual.
Muitos desses mecanismos presentes em certos animais, como as espécies marinhas, ainda são desconhecidos pela biologia. Algumas dessas espécies se expõem ao ciclo solar que alterna dia e noite, mas há tipos que são afetados pelas fases da lua e as marés. Há corais, por exemplo, que sincronizam sua reprodução, colocando ovos durante um mesmo período bem curto, uma vez por ano. Mas há ainda muito a ser descoberto sobre seus relógios biológicos.