Artes/cultura
24/12/2024 às 18:00•2 min de leituraAtualizado em 24/12/2024 às 18:00
Os nossos amigos influenciam muito a nossa vida, nos fornecendo apoio, empatia e companhia valiosa. Mas o que você provavelmente não sabe é que eles também causam impactos internos em nosso organismo.
Um novo estudo mostra justamente isso: que as pessoas com quem você anda podem provocar alterações na composição dos micróbios que revestem as suas entranhas.
Um estudo publicado na revista Nature propôs uma metodologia inusitada: ele cruzou informações retiradas dos grupos de convívio das pessoas com a composição de seus microbiomas – o que inclui as bactérias e outros microrganismos que habitam o trato gastrointestinal dos indivíduos.
A pesquisa foi feita a partir de um mapeamento dos grupos sociais de 1.787 adultos que vivem em 18 aldeias isoladas em Honduras. Foram também coletados dados do microbioma de cada pessoa, criando uma mapa que incluía 2.543 espécies de micróbios e 339.137 cepas diferentes.
Os pesquisadores notaram algo surpreendente: que as pessoas que estavam ligadas por algum relacionamento (o que incluía laços familiares ou não) exibiam certas semelhanças entre seus microbiomas,
Essas proximidades iam muito além do que seria apenas uma obra do acaso. "Encontramos evidências substanciais de compartilhamento de microbioma acontecendo entre pessoas que não são familiares e que não vivem juntas, mesmo depois de contabilizar outros fatores como dieta, fontes de água e medicamentos", afirmou Francesco Beghini, pesquisador no Laboratório de Natureza Humana em Yale, e um dos autores do estudo.
Ele ainda explica que essas coincidências revelam, inclusive, a proximidade entre as pessoas. "Na verdade, o compartilhamento de microbioma foi o mais forte preditor das relações sociais das pessoas nas aldeias que estudamos, além de características como riqueza, religião ou educação", acrescentou.
O estudo observou que cônjuges e pessoas que vivem na mesma casa tinham o nível de coincidência mais alto entre seus microbiomas. No entanto, havia também taxas elevadas de compartilhamento entre outras conexões, o que incluía amigos ou mesmo conexões sociais de segundo grau, como amigos de amigos.
A hipótese que melhor explica essa constatação é que os micróbios podem ser compartilhados por conta do tempo em que as pessoas passam juntas, como quando dividem as refeições ou se cumprimentam por beijos ou apertos de mão. Já entre as pessoas que viviam em aldeias separadas, o compartilhamento era mínimo.
Os pesquisadores ainda descobriram que grupos de espécies e cepas de micróbios ocorrem dentro de grupos de pessoas dentro das mesmas aldeias, o que significa que os contatos sociais fornecem nichos em que os indivíduos desenvolvem os mesmos tipos de microbiomas.
"Pense em como diferentes nichos sociais se formam em um lugar como a universidade. Você tem grupos de amigos centrados em coisas como teatro, esporte ou especialização em física. Nosso estudo indica que as pessoas que compõem esses grupos podem estar conectadas de maneiras que nunca pensamos antes, por meio de seus microbiomas", explica Jackson Pullman, um dos autores da pesquisa.
Ou seja, agora você sabe que divide muito mais do que segredos com os seus amigos. Vocês provavelmente estão compartilhando também os mesmos micróbios e bactérias.