Ciência
03/12/2024 às 18:00•2 min de leituraAtualizado em 03/12/2024 às 18:00
Quem nunca ficou na dúvida e teve aquele momento de “como é mesmo o nome daquilo?”. Ao tentar lembrar de uma palavra, a dificuldade de encontrar o termo exato é algo comum, principalmente com o passar dos anos. Esse fenômeno, conhecido como lethologica, geralmente fica mais evidente à medida que envelhecemos. Mas o que muitos não sabem é que, além dessa dificuldade, o ritmo da fala pode ser um sinal de alerta muito mais preciso para detectar problemas cognitivos, como o Alzheimer, em seus estágios iniciais.
Uma pesquisa recente da Universidade de Toronto revelou que a velocidade com que uma pessoa fala pode ser um indicador crucial da saúde cerebral em adultos mais velhos. Os cientistas analisaram a fala de 125 adultos saudáveis, com idades entre 18 e 90 anos, enquanto descreviam uma cena em detalhes. Surpreendentemente, o ritmo da fala se mostrou fortemente relacionado ao declínio nas habilidades cognitivas dos participantes, especialmente nas funções executivas, como atenção, velocidade de raciocínio e a capacidade de planejar tarefas.
Os pesquisadores descobriram que a diminuição da velocidade da fala em adultos mais velhos está relacionada ao desempenho mais lento em tarefas que medem a concentração e a rapidez de pensamento. Isso sugere que a desaceleração geral no processamento mental pode afetar tanto as funções cognitivas quanto as mudanças linguísticas com a idade. Um aspecto interessante do estudo foi o uso de uma tarefa chamada “interferência de palavras com imagens”.
Nessa atividade, os participantes viam imagens de objetos do cotidiano enquanto ouviam palavras relacionadas ou parecidas foneticamente. O estudo revelou que a rapidez com que os adultos mais velhos conseguiam nomear as imagens estava ligada à sua velocidade de fala natural, o que reforça a ideia de que a lentidão no processamento mental pode ser um fator subjacente no declínio cognitivo.
Esse estudo também trouxe à tona um detalhe importante: a dificuldade de encontrar a palavra certa pode ser apenas uma das manifestações de um declínio mais amplo nas funções cognitivas. Portanto, mais do que o famoso momento “na ponta da língua” — quando o cérebro sabe a palavra, mas ela não sai —, a velocidade da fala se revela um indicativo ainda mais precoce de mudanças no cérebro, antes mesmo de sintomas mais evidentes do Alzheimer se manifestarem.
O estudo da Universidade de Toronto abre novas possibilidades para o diagnóstico precoce de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer, através da análise da fala. Técnicas como o processamento de linguagem natural, uma forma de IA que analisa dados de linguagem humana, podem ser utilizadas para detectar essas mudanças sutis na fala, como o ritmo mais lento.
Isso não só oferece uma maneira mais eficiente de acompanhar a saúde cognitiva de uma pessoa ao longo do tempo, mas também pode ajudar médicos a identificar aqueles em risco antes que sintomas graves apareçam. A pesquisa também destaca a importância de ferramentas objetivas, como a análise da velocidade da fala, para detectar alterações que normalmente passariam despercebidas.
Além disso, os pesquisadores sugerem que futuras investigações poderiam combinar essas medições com relatórios subjetivos dos próprios participantes sobre as dificuldades em encontrar palavras, criando assim um panorama mais completo sobre o declínio cognitivo e linguístico. Embora o estudo tenha se focado em aspectos mais técnicos, ele oferece um vislumbre de como a inteligência artificial pode revolucionar a forma como diagnosticamos e entendemos doenças como o Alzheimer.