Estilo de vida
16/04/2018 às 08:01•2 min de leitura
O nosso reconhecimento da cor azul é relativamente novo se comparado ao de cores como branco, preto, vermelho e verde. Não é que nós fôssemos incapazes de ver essa tonalidade, mas como poucas coisas na natureza são de um azul vibrante — como uma borboleta ou outra, e algumas flores e aves —, os povos antigos não tinham referências suficientes para atrelar um nome à cor.
Até mesmo o céu, uma das nossas maiores referências para o azul, pode ser percebido em diversas cores como branco, cinza e amarelo, dentre muitas outras possíveis.
Como isso foi notado? No século XIX, o inglês William Gladstone reparou que Homero, em Odisseia, descreveu o mar como “escuro como vinho” — e, às vezes, com outros tons escuros ou claros —, mas nunca de fato usou a palavra “azul”.
Essa percepção se intensificou quando um estudioso decidiu procurar a cor em documentos antigos islandeses, hindus, japoneses, chineses, árabes, entre outros. Em nenhum deles a palavra “azul” foi encontrada. Ou seja, ela era realmente uma carta que não se encaixava no baralho.
A primeira sociedade que teve um termo para a cor foi a egípcia, e isso acontecia justamente porque eles eram capazes de produzir corantes dessa tonalidade. Ou seja, eles tinham um ponto de referência para a cor, além das poucas encontradas na natureza.
Um dos estudos mais completos a respeito do tema foi realizado em 2006 por Julio Davidoff e sua equipe com uma tribo da Namíbia, que não tinha nenhuma distinção para a cor azul, apenas vários tons de verde.
Foi colocada uma tela na frente deles com 11 quadrados verdes e um azul, e o que para nós parece bastante simples de identificar, para eles, foi bem complicado — inclusive, boa parte errou na identificação.
Talvez isso pareça simples demais para nós, mas para ilustrar bem como tudo acontece, um estudo “reverso” também foi feito. Já que a tribo tinha diversas palavras para a cor verde, Davidoff mostrou para eles outra tela, dessa vez com 11 tons de verde iguais e um diferente.
Os membros da tribo conseguiam identificar imediatamente! Aqui embaixo está a resposta.
Por mais estranho que pareça, esse e outros tipos de estudo comprovam que não é que as pessoas fossem incapazes de enxergar a cor azul; elas só não conseguiam reconhecê-la por causa da falta de referências e de uma palavra que a diferenciasse das demais cores.
Se não conhecemos uma tonalidade, muitas vezes, a colocamos dentro do balaio de outra semelhante. Os esquimós, por exemplo, enxergam dezenas de tons de branco, enquanto nós enxergamos um ou outro. E para os russos, o arco-íris tem oito cores em vez de sete, porque eles percebem alguns tons de forma diferente.
Resumindo, se o nosso cérebro não tem uma base para reconhecer essa cor, ele talvez não seja capaz de notá-la. A nossa percepção é subjetiva, depende do nosso ambiente, da nossa cultura, do que nos foi apresentado.
Isso nos faz pensar que talvez estejamos cercados de muito mais cores do que imaginamos, mas não tenhamos a capacidade de perceber que estão ali.
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